Todo mundo tem um método antes, durante e depois da bebedeira com o fim de evitar a ressaca. Mas o fato é que, afora a moderação no consumo do álcool e a hidratação, há muito de mito no que se houve por aí.
Para aproveitar o Carnaval sem ilusões sobre o mal estar provocado pelo álcool em excesso -e evitar efeitos piores- consultamos a hepatologista Edna Strauss, que é professora de pós-graduação na Faculdade de Medicina da USP, para desvendar o que funciona mesmo após a ingestão de uns drinques a mais.
1. A ressaca aumenta com a idade
"Não, pelo contrário, vai diminuindo! Pesquisa realizada na Dinamarca com mais de 50 mil pessoas, de ambos os sexos e entre 18 e 94 anos, demonstrou diminuição progressiva do surgimento de ressaca nos mais idosos comparados aos mais jovens, independente da quantidade de álcool ingerida ou frequência dos episódios de bebedeiras."
2. Misturar bebidas diferentes (destiladas, fermentadas etc.) piora os efeitos da ressaca
"O surgimento da ressaca está diretamente relacionado à quantidade de álcool ingerida, sob quaisquer fórmulas. Além do álcool, a maioria das bebidas acrecentam outras substâncias congêneres, as quais poderiam contribuir para a ressaca, em grau bem menor do que o álcool, mas a maioria das pesquisas não consegue demonstrar diferença entre elas."
3. Remédios para o fígado ajudam a curar a ressaca
"O tratamento para a ressaca é variável conforme os sintomas predominantes. Sensação de cansaço, sede e tonturas são os sintomas mais frequentes e que mais demoram para melhorar. A dor de cabeça e sintomas digestivos como vômitos e diarreia conseguem ser tratados com medicações usuais, sintomáticas, obtendo-se relativa melhora. A profilaxia da ressaca, ou seja algum remédio que 'impedisse sua instalação' é uma panacéia, largamente alardeada, mas não comprovada."
4. Tomar café ou Coca-Cola ajuda a curar a ressaca
"Bebidas como o café e a Coca-Cola contêm cafeína, substância muito estudada por sua eventual possibilidade de sinergismo com o álcool. Vários estudos foram publicados, mas não ficou comprovado que a presença ou ausência de cafeína tenha influência na prevalência ou gravidade da ressaca. Por outro lado, diferentes estudos comprovam que outros fatores como a privação de sono, o tabagismo, saúde debilitada, assim como fatores genéticos estão associados com o agravamento da ressaca."
5. Algumas bebidas provocam mais ressaca que outras
"A sensibilidade individual e a presença maior ou menor de congêneres podem, sim, criar reações diversas nas pessoas, conforme o tipo de bebida ingerida. Mas, repetimos, o fundamental para o surgimento da ressaca é a quantidade total de etanol ingerida. Existem pessoas com uma alteração enzimática que provoca “flash” facial e sensação de ressaca com doses muito pequenas de bebida alcoólica. Alguns, apesar disso, continuam bebendo e desenvovem quadros de ressaca intensa, mas a maioria se sente desistimulada a beber."
6. Fazer atividade física piora a ressaca
"Durante a ressaca não é aconselhável fazer atividades físicas, pois há certa falta de coordenação motora, podendo provocar acidentes, acrescidos ao mal estar geral e indisposição que certamente não convidam à prática. Superada a fase de 'ressaca', que se inicia quando não há mais álcool na corrente sanguínea (geralmente o dia seguinte à bebedeira) e que tem duração variável, em geral entre 12 e 20 horas, o exercício físico pode ser realizado dentro dos padrões de uma vida normal."
7. Comer de madrugada, após uma noite de bebedeira, ajuda a não ter ressaca
"O mito de que a ingestão de alimentos previne as ações deletérias do álcool persiste no imaginário popular, apesar de todas as provas científicas de que o álcool em si, independente de qualquer tipo de alimento, é que provoca os danos globais ao organismo e também a ressaca. Como o álcool tem grande teor calórico, as pessoas que o ingerem perdem a vontade de comer alimentos, não sentem fome. Quando isto se faz de forma continuada, instala-se no organismo um estado de desnutrição, que agrava a saúde do indivíduo. Portanto, uma alimentação saudável é necessária sempre, também quando se está bebendo álcool em quantidades excessivas. Comer depois da 'bebedeira' não é profilaxia de ressaca."
8. Comer doces ajuda a curar o mal estar
"Entre as diferentes alterações metabólicas que o álcool produz no organismo, particularmente no fígado, está a alteração do metabolismo da glicose. A hipoglicemia do alcoolismo agudo pode ser tão intensa que leva ao coma. Assim, se o alcoolista perde os sentidos durante uma bebedeira, antes de fazer exames, administra-se glicose na veia. Na fase de ressaca, o mal estar pode ser em parte devido também ao pequeno grau de hipoglicemia, mas isto se corrige com alimentação leve, não necessariamente com doces."
9. Tomar bebidas energéticas com a bebida alcoólica diminui a ressaca
"Sob o rótulo de 'bebidas energéticas' podemos encontrar bons produtos, certamente. No entanto, muitos deles contêm diferentes substâncias sem eficácia comprovada, não sendo indicados para ressaca. Repetimos que a profilaxia da ressaca está sendo estudada, sem termos chegado ainda a resultados conclusivos."
10. Provocar vômito após se exceder na bebida evita a ressaca
"O vômito nunca deve ser provocado! Mesmo após ingestão de tóxicos, que devem ser eliminados o mais rapidamente possível, deve-se fazê-lo nas condições apropriadas, em um pronto-socorro, com atendimento médico. No caso de bebedeira, o álcool vai sendo absorvido à medida que é ingerido, já no estômago, sendo levado direto para o fígado. Os vômitos espontâneos, no final da bebedeira, são por lesões gástricas agudas e certamente não interferem positivamente na possível ressaca que virá."
11. Se eu dirigir enquanto estiver com ressaca uma blitz pode "me pegar"
"Este problema é seríssimo, pois durante a ressaca, por definição, não existe mais álcool no sangue, o bafômetro não irá detectar. Entretanto, vários estudos recentes confirmam que durante esse período persistem alterações cognitivas e motoras, semelhantes à fase da bebedeira, que pioram sensivelmente a habilidade de conduzir veículos e portanto, propiciam a ocorrência de acidentes. Assim, indivíduos com ressaca não devem dirigir."