Em 2017, o coletivo artivista Guerrilla Girls fez uma exposição no Masp, em São Paulo, e como em outras instituições por onde passou, levantou a participação feminina. Conclui que apenas 6% do acervo em exposição eram mulheres, “mas 60% dos nus são femininos”: “As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?”, questionavam as norte-americanas. “Desde então, as artistas passaram a representar 16%, o que ainda é um número muito pequeno em relação à coleção como um todo, mas aumentou”, afirma Isabella Rjeille, curadora-assistente de Histórias das Mulheres, Histórias Feministas, mostra em cartaz até 17 de novembro - e faz parte dos esforços da nova gestão do museu para torná-lo mais plural e diverso.
A coletiva reúne obras de criadoras que destacaram-se nos anos 2000, num contraponto à exibição Histórias das Mulheres, com nomes que atuaram até 1900. “Elas estão interconectadas”, diz Isabella. “Optamos por abordar esses dois polos distintos e deixar o século 20, que é muito importante, mas está representado, por exemplo, na individual de Tarsila [do Amaral], que ficou em cartaz até julho”, explica ela. Pinturas, instalações, esculturas e vídeos de nomes como Aline Motta, Regina Parra, Ana Mazzei, Carla Zaccagnini e o coletivo Daspu aparecem em Histórias Feministas, enquanto Elisabeth-Louise Vigée-Lebrun e Artemisia Gentileschi estão em Histórias das Mulheres. “O viés feminista questiona, por exemplo, esse padrão de formar coleções e da história da arte, majoritariamente branco, masculino, europeu e norte-americano”, diz Isabella, num indício de que caminhamos, finalmente, aos 50%.
Na sala dedicada às artistas que atuaram até 1900, impressiona a beleza de pinturas que nada deixam à desejar aos mestres de séculos passados, realizada por artistas que foram "apagadas" pela história da arte como Sofonisba Anguissola (circa 1532-1625), Artemisia Gentileschi (1593-1653), Judith Leyster (1609-1660), Angelica Kauffmann (1741-1804), Elisabeth-Louise Vigée-Lebrun (1755-1842) e Eva Gonzalès (1849-1883). Ali, há desde autoretratos a retratos de nobres e cenas do cotidiano, mostrando que os trabalhos feitos por mulheres não se restringiam a "temas femininos", abrangendo o mesmo imaginário das criações feitas por homens.
No espaço dedicado às artistas contemporâneas, no subsolo do museu, destacam-se peças como um delicado vestido feito pelo coletivo Daspu, o luminoso assinado por Santarosa Barreto e as pinturas da dupla Lydia Hamann e Kaj Osteroth.