Na últimas semanas, estive na Irlanda para uma convenção sobre ficção científica e fantasia. Sim, foi tão nerd quanto você deve estar pensando - e foi incrível. Além de ser um ambiente extremamente diverso, onde impera o respeito à identidade de gênero e à sexualidade, as palestras foram fantásticas. Tive a chance de conhecer e ouvir escritoras e escritores de todas as partes do mundo falando sobre seu trabalho, seus sonhos e expectativas para o mundo. E no meio de tanta coisa legal, esbarrei no conceito de hopepunk.
Não é de hoje que a ficção científica é meio, digamos, fatalista. Autores e cineastas já previram inúmeras formas de destruição da humanidade e do planeta. Já fomos atacados por raças alienígenas superinteligentes, explorados, feridos e agredidos enquanto humanidade por uma infinidade de causas externas. Nossa ambição de dominar mundos e estrelas nos levou, na ficção, a um monte de horrores bem criativos. Não dá pra dizer que é um tipo de arte muito otimista.
O problema é que esses horrores nem sempre estão longe, nas estrelas, em forma de monstros adormecidos só esperando uma chance para atacar. Basta ver as notícias: já somos bons demais em criar destruição para nós mesmos. São tempos muito, muito estranhos, e a ficção científica observa isso e transforma em arte. É difícil ser otimista quando a realidade parece quebrada e sem conserto.
Mas aí entra o hopepunk. A ideia desse subgênero de ficção fantástica não é imaginar o mundo de forma idealizada, e sim reforçar a importância de lutar, coletivamente, por um mundo melhor. Já se foi o tempo da heroína solitária que faz de tudo para ser ouvida e levada a sério. Não acreditamos mais no herói bombado que vai salvar a humanidade mais uma vez, de preferência com uma mocinha indefesa ao seu lado. Ter esperança dá trabalho - e já passou da hora de arregaçar as mangas. Já falamos muito sobre distopias e fim do mundo, mas hopepunk é ousar imaginar uma saída, uma alternativa melhor - e lutar por isso.
É tempo de boas ideias e coragem. De continuar estudando, contestando e agindo. De não se deixar levar pelo desespero, que nos divide e enfraquece, e sim buscar a informação verdadeira, o pensamento científico e racional, a arte e o diálogo.
A mesma humanidade que se destrói e se afoga em ignorância e anticiência é capaz de conquistas maravilhosas como o projeto Artemis, que deve levar a humanidade de volta à Lua em cinco anos e planeja começar a construção de uma base lunar para pesquisas. Mas para chegarmos às maravilhas que a ficção científica promete, precisamos também lidar com a parte feia do nosso mundo. Com urgência.