“Não achava que Paolla pudesse ser uma opção para a Denise de "Felizes para Sempre?". Pelos papéis que interpretou nas novelas, ela me parecia muito meiga para viver uma garota de programa manipuladora. Mas, depois de uma série de testes com outras atrizes, eu e os outros diretores da série resolvemos chamá-la para ler alguns diálogos em São Paulo. Ela entrou em um avião e apareceu no dia seguinte.
Fui surpreendido. Na minha frente, a atriz meiga se transformou e revelou camadas que eu não conhecia. Pedi que ela ficasse mais dois dias, para fazer um aquecimento com a Fátima Toledo, preparadora de atores. Nem toda atriz se disporia a isso, ainda mais como ela, sempre escalada para protagonistas, sem nem saber se no final faria o papel ou não. Mas Paolla topou e pulou sem paraquedas. Porque o compromisso dela é com o trabalho, não com o status que tem. Meu julgamento inicial estava errado.
Denise não é uma personagem fácil. É uma garota de programa sensual, mas nada vulgar. Ela sabe o poder que tem com os homens, mas divide sua vida com uma mulher. Tenta parecer uma coisa, mas é sempre o oposto e mente sem parar. Viver mentindo é a maior dificuldade dessa personagem, mas também a maior graça.
Paolla foi com a cabeça e o coração. Numa generalização simplista, diria que, na escola americana de interpretação, se busca chegar ao personagem de dentro para fora, primeiro sentir. Na escola inglesa, o caminho é de fora para dentro. Os atores estudam gestos, tom de voz, postura corporal e dão enorme atenção ao figurino. Paolla mistura um pouco das duas técnicas.
Filmar cenas de sexo não é fácil nem para os atores que estão ali expostos, nem para a equipe no set. A Paolla e o Kike Diaz [que vive Claudio, um dos clientes de Denise] tinham muitas cenas de sexo. Então a saída deles foi brincar com a situação, para deixar o clima tranquilo. Deu certo.
Paolla se coloca como mais um membro da equipe, nunca como a estrela do projeto. Foi arroz de festa nas baladinhas que fizemos e conquistou todos. A única reclamação sobre ela veio do técnico de som. Para filmarmos Denise dirigindo seu Mini Cooper pelas ruas de Brasília, tivemos que colocar cinco pessoas dentro do carrinho, fora as câmeras. O que a produção não esperava é que Paolla tivesse ‘pé de chumbo’ ao volante. Quando a câmera rodava, ela não conseguia guiar numa velocidade aceitável. Empolgava-se e pisava fundo no acelerador, o que gerava um ruído ruim para as cenas. Entrava nos viadutos como se fosse o Lewis Hamilton. Uma maluca cercada por quatro marmanjos apavorados.
Passado o susto, comentei com ela sobre o risco da situação. Mas a Paolla sequer havia notado que estava dirigindo como se participasse da Stock Car. Imersão total na personagem. Perigoso, mas lindo. Jamais use a palavra ‘meiga’ ao se referir a Paolla Oliveira.”