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Ménage à Tinder: usuárias do aplicativo que promove o sexo a três relatam suas histórias

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No 3nder, estão reunidos apenas casais interessados em sexo a três ou solteiros ansiosos por um convite (Foto: RICHARD KERN)


A primeira vez aconteceu quase por acaso e nunca mais saiu da cabeça da advogada paulista Vanessa*, 26 anos. Em uma festa na república onde morava, depois de uns drinques a mais, ela foi praticamente “atacada” pela colega de faculdade com quem dividia o quarto – junto com o namorado dela.

“Fomos fumar um cigarro na varanda e de repente ela começou a me acariciar, meio que se exibindo para ele. Aquele jogo me deixou excitadíssima e fiquei louca para participar”, relembra. “O rapaz se juntou a nós e tudo rolou perfeitamente. Ninguém precisou pedir autorização para nada, não houve ciúmes entre eles. Foi inesquecível, uma das melhores transas que já tive.”

“O rapaz se juntou a nós e tudo rolou perfeitamente. Ninguém precisou pedir autorização para nada, não houve ciúmes entre eles. Foi inesquecível, uma das melhores transas que já tive"
Vanessa*, advogada

Dois anos se passaram e Vanessa tentou, sem sucesso, repetir a experiência. Mas faltavam casais tão descolados quanto seus amigos da faculdade.

“Para piorar, os namorados que tive depois se magoavam quando propunha uma noite a três. Mesmo que fosse com uma mulher. Como se eu dissesse que eles não davam conta do recado na cama”, explica Vanessa. “Até fui a algumas casas de suingue, mas não me senti atraída por ninguém. Eram casais maduros, que poderiam ser amigos dos meus pais.”

A advogada decidiu então apelar para a tecnologia. Depois de se cadastrar no Tinder – e registrar em seu perfil que estava à procura de encontros com homens e mulheres ao mesmo tempo – ela descobriu outro aplicativo que vai direto ao ponto quando o objetivo é um ménage à trois. No 3nder estão inscritos somente casais que querem convidar alguém para a cama ou solteiros ansiosos para receber esse convite.

O sistema é bem similar ao do Tinder. O usuário dá um “like” no candidato que lhe despertou atenção, depois de ver fotos e informações como idade, preferências sexuais e hobbies. Se o alvo corresponder à investida, o 3nder avisa os envolvidos e um chat tem início. O aplicativo mantém essa janela de diálogo aberta por até três dias – período em que o trio de usuários marcará (ou não) um encontro pessoal.

A interface do aplicativo, criado pelo designer búlgaro Dimo Trifonov, 24, para pôr em prática suas próprias fantasias sexuais com a namorada (Foto: Divulgação)


Criado pelo designer búlgaro Dimo Trifonov, 24, em fevereiro de 2014 e lançado oficialmente seis meses depois na Apple Store, o 3nder teve 50 mil inscritos só em sua fase inicial e hoje ultrapassa os 240 mil. Os cadastrados têm em média de 18 a 35 anos e são solteiros ou casais héteros, homo e bissexuais.

A maioria, no entanto, se enquadra no perfil clássico do ménage: casal hétero procurando uma convidada. “São pessoas curiosas em explorar sua sexualidade e que se sentem mais seguras fazendo isso no ambiente sigiloso do aplicativo”, diz Trifonov à Marie Claire.

“Eu e minha namorada queríamos encontrar alguém legal para se juntar a nós. O problema é que não gostamos de baladas, não bebemos e isso dificulta as coisas"
Dimo Trifonov, criador do 3nder

O criador do 3nder vive em Londres e afirma ter desenvolvido a tecnologia para colocar em prática sua própria fantasia. “Eu e minha namorada queríamos encontrar alguém legal para se juntar a nós. O problema é que não gostamos de baladas, não bebemos e isso dificulta as coisas.”

Trifonov até se inscreveu em sites e entrou em salas de bate-papo sobre sexo a três, mas não deu certo. “Essas páginas cobravam taxas caras pela inscrição ou nos deixavam com medo de sofrer um golpe. O aplicativo tem download gratuito, visual agradável e ajuda de fato a localizar pessoas com um estilo de vida bacana, que querem expandir fronteiras sexuais.”

TABU
O sucesso de uma tecnologia específica para a prática do ménage à trois mostra como o fetiche continua mais atual do que nunca, embora ainda seja considerado “coisa de casal moderninho” e até um tabu. “Na fase de testes do 3nder, pedi a alguns amigos que se cadastrassem, mas vários recusaram. Alegavam que poderiam perder os empregos ou ser julgados por familiares ao expor sua intimidade”, conta Trifonov.

Graças à ferramenta, Vanessa descobriu na tela do celular gente bonita, jovem, divertida e com desejos iguais aos dela. “Nos últimos quatro meses, marquei encontros com cinco casais pelo 3nder, todos compostos de mulheres bissexuais e homens héteros. Fiquei com três deles”, conta.

A advogada conduziu as paqueras sempre da mesma forma. O primeiro papo ao vivo aconteceu em um café, depois os candidatos se falaram pelo Facebook. “Se a dupla que escolhi fosse mesmo atraente e interessante, aí sim íamos a uma balada ou eu armava um jantarzinho aqui em casa, com um clima mais quente, ideal para transarmos.”

Assim como a advogada, a personal trainer carioca Angélica*, 28, adepta do ménage à trois há sete anos, também prefere a ajuda do 3nder para encontrar parceiros – ela já foi para a cama com duas duplas que conheceu na ferramenta. “Você escolhe ou é escolhido por pessoas que não conhece, mas todos sabem o motivo de estarmos  ali. Não tem chance de virar dramalhão”, explica.

"CASAL DE TRÊS"
“O problema de ser a convidada de casais conhecidos é a possibilidade de tudo virar uma grande ‘DR’ [discussão de relacionamento].” Angélica se refere sua primeira experiência em ménage, que envolveu amigos. Ela se apaixonou pela dupla e sofreu ao ser dispensada. “Foi um casinho de três meses e também quando me descobri bissexual. Eles eram meus colegas no trabalho e me convidaram para tomar um drinque na casa deles”, relembra.

"Eles eram charmosos, cultos e engraçados. Cada vez que me chamavam para ir ao apartamento e fazer parte daquele mundinho deles, eu vibrava! Mas de manhã, quando vestia minhas roupas para ir embora e os deixava nus na cama, sentia um vazio enorme"
Angélica*, personal trainer

“Fui me deixando envolver pelos beijos dele, depois pelas carícias dela... Ouvir gemidos em timbres diferentes, duas texturas de pele no meu corpo e ser desejada por um homem e uma mulher ao mesmo tempo foi excitante num grau que eu jamais poderia imaginar”, recorda.
“A pegação acontecia em trio, às vezes ele bancava o voyeur e só olhava nós duas em ação, em outras era eu quem os observava”, conta Angélica.

A convidada passou a formar então um “casal de três” com os amigos e as noites de sexo se tornaram mais frequentes – se encontravam pelo menos duas vezes por semana. “Eles eram charmosos, cultos e engraçados. Cada vez que me chamavam para ir ao apartamento e fazer parte daquele mundinho deles, eu vibrava! Mas de manhã, quando vestia minhas roupas para ir embora e os deixava nus na cama, sentia um vazio enorme”, afirma.

Até que me declarei, estava apaixonada por eles. E, claro, levei um fora. Afetuosamente os dois me disseram que gostavam da minha companhia e queriam apenas se divertir. Foi horrível, me senti usada.”

O trauma não diminuiu o apreço de Angélica pela prática do sexo a três. Apenas aumentou seus cuidados em torno da relação desenvolvida com o casal. “Só não quero repetir com pessoas conhecidas ou por quem tenha sentimentos. No 3nder consigo achar casais anônimos e corro menos perigo de me envolver”, explica.

* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados


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