O Brasil contabiliza uma média de 4,4 assassinatos a cada 100 mil mulheres, fato que nos coloca na 7ª posição do ranking dos países com maior incidência criminal contra o sexo feminino, apesar da Lei Maria da Penha. Além disso, caminhar com tranquilidade nas ruas ainda não é uma realidade comum às brasileiras. Mas será que os jovens estão ligados quando o assunto é violência contra a mulher? Uma pesquisa inédita divulgada, nesta quarta-feira (03), pelo Instituto Avon, em parceria com o Data Popular, ouviu 2.046 pessoas, com idade entre 16 e 24 anos, e o resultado mostra que o machismo ainda impera.
O levantamento foi obtido através de questionários on-line, onde 78% das jovens admitiram já ter sofrido algum tipo de assédio em locais públicos. Os verbais estão no topo da lista – 68% delas disseram receber cantadas consideradas ofensivas, violentas ou desrespeitosas.
Na sequência, aparece a revelação de que 44% já foram tocadas em festas ou baladas, 31% assediadas fisicamente em transporte público e 30% beijadas à força. Em contrapartida, apenas 24% dos homens entrevistados admitiram já ter praticado alguma destas ações.
“Eu me sinto desrespeitada toda vez que ando na rua, em qualquer horário e com qualquer roupa e ouço homens mexendo comigo, se dirigindo a mim com palavras de baixo calão. Me sinto desrespeitada quando estou em uma festa e um homem que eu não conheço tenta me puxar pela mão, puxa meu cabelo ou me segura pelo corpo.”, declarou uma das mulheres ouvidas.
VALORES MACHISTAS AINDA DÃO AS CARTAS
Outra constatação do estudo é a de os participantes são praticamente unânimes (96%) em relação à existência do machismo no país. E boa parte ainda aprova valores sexistas. Cerca de 53% das meninas e 49% dos meninos declararam que a mulher deve ter a primeira relação sexual obrigatoriamente com um namorado sério.
Quando o tópico dizia respeito à obrigação das mulheres de ter poucos parceiros ao longo da vida, a diferença se mostrou sutil, 42% contra 41%. Em seguida, 34% delas disse que a mulher que tem relações sexuais com muitos homens não é para namorar, em comparação a 43% deles. E mesmo depois de toda a repercussão da campanha #EuNãoMereçoSerEstuprada, lançada no primeiro semestre do ano pela jornalista Nana Queiroz, 30% dos jovens e 20% das jovens concordaram com a afirmação de que se uma mulher usa decote e saia curta, é porque está se oferecendo para os caras.
Para completar, 80% das pessoas que responderam à pesquisa acham incorreto mulheres ficarem bêbadas em bares, festas ou balada; e 76% rechaçam as que tenham vários ficantes ou casinhos.
QUANDO O ASSUNTO É LEI MARIA DA PENHA...
... Cerca de 96% dos jovens se mostram a favor. Essa alta porcentagem se relaciona, provavelmente, ao fato de 43% deles já terem presenciado a mãe ser agredida por algum parceiro. Violência essa que influencia diretamente no comportamento dos homens desta faixa etária.
Muito embora 47% dos que nunca presenciaram a progenitora ser agredida admitam já ter praticado violência ou controle contra a parceira; o índice sobe para 64%, quando se trata de quem já viu.
Xingar, controlar, proibir de sair à noite, impedir de usar determinada roupa, empurrar e dar um soco ou tapa são as atitudes mais recorrentes.
VIOLÊNCIA E CONTROLE JÁ FAZEM PARTE DOS RELACIONAMENTOS
Grande parte das meninas admitiu que, em algum momento do namoro, seus parceiros já procuraram mensagens e/ou ligações em seu celular (53%), sofreu algum tipo de controle através de ligações telefônicas (40%), foi xingada (35%) ou impedida de usar algum tipo de roupa (33%).
Mas nem sempre tais atitudes são identificadas espontaneamente como abusivas. Não à toa, a princípio, apenas 4% dos homens admitiram praticar violência contra a parceira e 8% das mulheres disseram sofrer. Já quando as ações foram especificadas, o cenário mudou de figura, e as porcentagens subiram para 66% e 75%, respectivamente.
Empurrões, torções dos membros e humilhação pública fazem a lista crescer. “Meu ex-namorado me seguia, me xingava, xingava minha família e ameaçava se matar caso eu o deixasse. Fiz três Boletins de Ocorrência contra ele”, contou uma garota. “Levei um tapa na rua porque não quis mais continuar com o relacionamento”, acrescentou outra.
O objetivo da pesquisa é alertar para uma realidade ainda extremamente atrasada e conservadora, e propor um combate mais efetivo no que diz respeito à violência doméstica. Por isso, foi apresentado durante o "Fórum Fale Sem Medo".