A preocupação exagerada com o rótulo, procedência e preparo de alimentos é o novo distúrbio alimentar do século 21. Ortorexia: é este o transtorno que acaba de entrar para o grupo da anorexia e bulimia, mas que abrange comportamentos aparentemente inofensivos.
“Quando a busca por informações sobre alimentos saudáveis chega ao ponto de restringir ao extremo as escolhas alimentares de um indivíduo é sinal de alerta”, conta Hewdy Lobo Ribeiro, médico nutrólogo e diretor da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). “Gastar muito tempo com pesquisas e preparo de comidas assim como em atividades físicas, causando prejuízo às relações familiares e corporativas, também entra para a lista dos sinais.”
O fenômeno foi identificado em 1996 pelo médico americano Steven Bratman, que lançou o livro “Health Food Junkies” (viciados em comida saudável, em tradução livre) para abordar o assunto. Desde lá, novos pacientes, principalmente mulheres e adolescentes, passaram a ser diagnosticados no mundo inteiro. Hoje, a Organização Mundial da Saúde considera que 28% da população ocidental apresenta quadro de ortorexia nervosa. Apesar de achar o número exagerado, Dr. Hewdy confirma o registro de diversos casos no Brasil, desde 2005, quando o tema passou a ser debatido em congressos da área de saúde.
COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL
Alguns quadros avançados do distúrbio podem apresentar anemia e outras carências nutricionais, resultado do corte absoluto de certos ingredientes da dieta, como a gordura, rica em vitamina lipossolúvel e reguladora de alguns hormônios. Dores de cabeça decorrente dos longos períodos de jejum, hipoglicemia e queda da imunidade também entram pra lista. Mas é a perda de liberdade e o isolamento social que mais chama a atenção entre as consequências danosas provocadas pela ortorexia, já que se trata de um prejuízo, às vezes, mais difícil de reparar do que qualquer dano físico ou nutricional.
O especialista conta que algumas pessoas ficam tão focadas na alimentação, “que se afastam da família, se divorciam quando o cônjuge não embarca na mesma jornada, perdem o trabalho por substituir tempo de produção por horas à procura de novas informações nutricionais, e se isolam por achar que a maioria das pessoas não segue seus preceitos alimentares”.
Comer fora de casa também se transforma em um problema de proporção exagerada, já que a pessoa desconfia da procedência dos ingredientes usados e da maneira com que os pratos são preparados. Comer e cozinhar se tornam práticas completamente solitárias.
O TRATAMENTO ADEQUADO
Se não tratada, a ortorexia pode, sim, se converter em um quadro de bulimia e anorexia. “Por isso, é extremamente importante que a pessoa e os familiares sejam ouvidos, primeiro, com o intuito de descobrir outros adoecimentos emocionais, como transtorno obsessivo compulsivo, mais conhecido como TOC. Depois disso, todos os pacientes são encaminhados para consultas de nutroterapia educacional e psicoterapia. E em alguns casos, é necessário fazer uso de medicamentos controlados”, explica Ewdy.
COMO EVITAR O PROBLEMA
Considerando o aumento substancial do culto ao corpo e da publicidade de produtos supostamente saudáveis, ficar atenta aos sinais apresentados por amigos e familiares pode ser uma ótima forma de diagnosticar precocemente a doença. “Repare se o foco da pessoa está voltado apenas a uma alimentação absolutamente saudável, que tem limitado o seu comportamento equilibrado e a liberdade pessoal de vivenciar o universo de oportunidades que a vida oferece socialmente”, finaliza o especialista.
E, na hora de iniciar uma dieta, não hesite em procurar orientação profissional. Aproveite a consulta para levar dúvidas e confirmar a eficácia de algumas mudanças de hábito. Só então embarque em um programa de emagrecimento aconselhado por ele.