Conciliar a completa falta de horários que implica o trabalho de modelo com a rotina regrada da faculdade de medicina parece inviável, mas Ana Claudia Michels se esforça como niguém para que seja possível. Um dia antes de completar 30 anos, a top consagrada internacionalmente enfrentou a crise vivida por muitas mulheres nesta fase tomando uma decisão importante: se matriculou no cursinho para investir na carreira que sempre sonhou em seguir. A dedicação é tamanha que, recentemente, ela embarcou para Santarém, no Pará, como voluntária da “Operação Sorriso”, uma ONG que realiza cirurgias corretivas em pacientes com lábio leporino: “Foi a coisa mais incrível que eu já fiz na minha vida”, disse à Marie Claire no backstage do desfile Brasil Fashion, organizado pelo Senai CETIQT, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Marie Claire - Aos 33 anos, que balanço você faz da carreira como modelo?
Ana Claudia Michels - Eu fui muito além do que um dia sonhei. Me sinto muito orgulhosa da carreira que eu tive e que eu tenho. Eu só fico chocada com a rapidez que passou. Estou trabalhando há 18 anos. E eu lembro como se fosse ontem o dia que eu estava sem São Paulo e falei: “Vou trancar esse ano da escola, mas no próximo estou de volta”. Nunca mais voltei.
MC - E quando você completou 30 anos, enfrentou a tão temida crise?
AC - Não foi exatamente uma crise, mas acho que tu começa a se questionar. Foi com 29 que eu pensei: “Vou fazer 30 e eu não fiz a faculdade que queria ter feito”. Daí, um dia antes de eu fazer 30 anos, eu entrei no cursinho. Na hora você não percebe, mas quando relembro é que me dei conta de que eu estava bem nessa transição.
MC - Agora, você se dedica à graduação (Ana estuda na Faculdade São Camilo, em São Paulo), mas continua trabalhando como modelo. Como tem sido essa nova rotina? Pretende parar de modelar?
AC - Com a faculdade, eu não consigo viajar. Então, minha dedicação não é 100% na profissão, porque eu não posso morar fora. Mas eu também não estaria pronta para falar: “Não vou mais trabalhar como modelo. Vou fazer outra coisa”. É muito tempo nesse meio. Então, além de a gente aprender muito, a gente pega gosto pela moda, carinho pelas pessoas. E quer ver a moda crescer no Brasil. Então eu acho que vou estar sempre envolvida de alguma forma.
MC - Como pretende, então, conciliar as duas carreiras?
AC - Vou levando um dia de cada vez, como eu estou fazendo agora. Tipo, tem esse trabalho aqui, aí eu consigo faltar um dia. Meus coleguinhas ajudam, gravam a aula, anotam pra mim. Vou levando.
MC - Recentemente, você embarcou rumo ao Pará para participar da “Operação Sorriso”. Como foi essa experiência?
AC - Foi incrível, acho que a coisa mais incrível que eu já fiz na minha vida. Acho que eu demorei uns dez dias para me situar de novo. É muito lindo o trabalho que eles fazem. Realmente, são profissionais que são excelentes no que fazem - são os melhores cirurgiões e melhores pediatras do país. Vão pra lá e trabalham muito, durante quatro ou cinco dias, fazendo uma cirurgia atrás da outra.
MC - A viagem te ajudou a decidir qual especialidade seguir?
AC - Piorou. (Risos) No primeiro dia, eu pensei: “Quero fazer anestesia, porque eu achei os anestesistas o máximo”. Depois, pensei em fazer pediatria, porque a pediatra é incrível. Até enfermagem passou pela minha cabeça e eu pensei: “Por que eu não fiz enfermagem? É muito legal”.
MC - E de que maneira você atuou por lá?
AC - Não me deixaram por a mão na massa, porque eu ainda não posso. Mas eu fiquei lá direto. Eles me davam livre acesso à sala de cirurgia. Foi um sonho pra mim.