O encontro entre os empresários Fernanda Ralston, 36, e Ricardo Semler, 52, foi do tipo apoteótico: eles se conheceram há oito anos por ocasião de um trabalho e casaram seis meses depois. O amor trouxe uma mudança radical: deixar São Paulo e levar uma nova vida em Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira. O que não significou, nem de longe, uma rotina pacata.
Ali eles construíram um hotel, o Botanique (elogiado nos principais guias do mundo), ergueram a Fundação Raslton-Semler (que incentiva projetos comunitários como, por exemplo, a recuperação do patrimônio público e a valorização da produção cultural local) e administram duas escolas, onde aplicam um método de ensino criado por Semler em parceria com pedagogos.
“Sempre tive ligação com a cidade. Meu tataravô era engenheiro e trouxe a estrada de ferro para cá”, diz Fernanda, sentada na varanda da casa que ela e o marido ergueram do zero e que foi crescendo à medida que o casal foi comprando pedaços de terra. Hoje, vivem com os três filhos (Pedro, filho do primeiro casamento de Fernanda, as gêmas Letícia e Olívia e o caçula Arthur) numa residência pensada em cada detalhe. São dez quartos, quatro salas e uma vista de 360º para a serra, escancarada pelas imensas janelas de vidro. “Nosso lar muda de acordo com as cores da mata, que variam com a mudança das estações”, diz a proprietária.
O projeto, que privilegia paredes de pedras empilhadas e madeira nos acabamentos e nas vigas, é da arquiteta Candida Tabet. A decoração, no entanto, foi pensada por Fernanda. O casal precisava de um espaço grande, onde pudesse receber toda a família – a mãe, os cinco irmãos de Fernanda, os sobrinhos e o filho mais velho de Semler estão sempre por lá –, mas não queria abrir mão do aconchego. Uma das primeiras providências foi privilegiar os espaços das refeições. Assim, há uma imensa mesa de madeira, com cerca de 30 lugares, num platô logo acima do lago que faz parte do terreno.
Para assegurar que nada, nem o mau tempo, impeça essas grandes reuniões familiares, outro móvel do mesmo tamanho está na varanda coberta. O décor tem móveis em tons terrosos, com um toque de vermelho aqui e ali. Tapetes, porta-retratos, lembranças de família, coleções de charutos e garrafas de vinho dão uma sensação acolhedora. A grande paixão de Fernanda são as obras de arte contemporânea. É possível encontrar em todos os ambientes telas d’Osgêmeos, trabalhos de Janaina Tschäpe e de outros artistas.
Em um imóvel onde cada cômodo foi pensado para harmonizar com o resto da propriedade e a natureza ao redor – os arranjos dos vasos, por exemplo, são montados com flores e frutos colhidos na mata por um funcionário –, é quase impossível eleger o que é mais especial. No entanto, a biblioteca e a sala principal da residência conseguem chamar ainda mais atenção. Na primeira, prateleiras de parede a parede, praticamente do chão ao teto, abrigam a valiosa coleção de livros de Semler – ele mesmo é um escritor de sucesso, que entrou para as listas de best-seller quando publicou, no anos 80, "Virando a Própria Mesa".
Já a sala, onde há um pédireito feito à semelhança do teto de uma catedral, é o lugar pensado especialmente para receber pequenos concertos. “A acústica aqui tinha que ser perfeita”, diz Fernanda. Não só por Ricardo adorar música, mas também porque, com uma família do tamanho da deles, afirma a proprietária, “uma boa conversa entre nós sempre inclui um monte de gente falando ao mesmo tempo. Já imaginou a gritaria?”