No início do ano, o vlogger Davey Wavey convocou, através de um site de anúncios, americanas adultas que nunca haviam olhado para suas próprias genitálias para um experimento. Surpreendentemente, a chamada o fez conhecer um grande número de mulheres que, pelos mais variados motivos, jamais haviam dado uma atenção especial às suas partes íntimas. Dentro de uma cabine, elas tiveram a chance de olhar pela primeira vez para a vulva com a ajuda de um espelho. E o resultado foi dos melhores. A maioria se sentiu bem, orgulhosa e mais autoconfiante. O vídeo documentando as reações já foi visto mais de 2 milhões de vezes. A dúvida é: e se a mesma experiência fosse reproduzida com as brasileiras, o efeito seria o mesmo? Talvez não.
De acordo com um relatório divulgado no início de agosto pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), nós nos tornamos, pela primeira vez, líder mundial na realização de cirurgias, ultrapassando os Estados Unidos. Entre os 19 tipos de cirurgias catalogadas, lideramos em 10, sendo uma delas a de rejuvenescimento vaginal, que já soma 13.683 procedimentos e continua crescendo. Cada vez mais brasileiras têm se mostrado insatisfeitas com a estética de sua vagina e, consequentemente, apelado para procedimentos cirúrgicos a fim de remodelá-la.
“No meu consultório, 100% das pacientes vêm com queixas meramente estéticas. Só depois, algumas apresentam motivos adicionais, como atrito com a roupa e incômodo na penetração durante o sexo”, conta Taís Saraceno, cirurgiã plástica e especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que nos últimos quatro anos já realizou 115 cirurgias do tipo. “A maioria não aceita, por exemplo, que os pequenos lábios ultrapassem os grandes. Funcionalmente, isso não é considerada uma anormalidade. Trata-se apenas de uma variação anatômica, porém, elas desejam ter uma vulva plana”, conta.
Eliminar a flacidez na região e o aspecto enrugado, que surgem principalmente durante a menopausa, entram também na lista das reclamações mais comuns. “As mulheres procuram por uma vulva que tenha a forma de um hambúrguer – fofinho nos grandes lábios, como se eles fossem os pães”, acrescenta Rodrigo Castro, ginecologista e professor da Unifesp. Para isso, dois tipos de procedimentos diferentes são realizados.
NINFOPLASTIA E ENXERTO DE GORDURA
A ninfoplastia está associada à hipertrofia dos pequenos lábios. “É bem tranquila. Com uma anestesia local e sedação, o excesso de pele é ressecado longitudinalmente. No mesmo dia, a paciente já recebe alta”, explica Luiz Henrique Ishida, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e cirurgião plástico do Hospital das Clínicas da USP. Durante este procedimento, é possível ainda eliminar a bordinha escurecida, decorrente de atrito, alteração hormonal e envelhecimento, e expor mais o tecido rosado.
Já o preenchimento é realizado quando se deseja acrescentar volume aos grandes lábios. “Fazemos um corte de 4mm para coletar de 20ml a 30ml de gordura, normalmente, da região abdominal. Depois, um corte do mesmo tamanho é feito na vulva para o enxerto. Os pontos são absorvidos pelo próprio organismo”, detalha Taís. “A retirada das células de gordura pode ser feita também do monte do púbis, quando essa região é mais gordinha e se quer reduzir o volume local.”
A simplicidade dos procedimentos, que são realizados em aproximadamente 40 minutos, faz com que o pós-operatório seja tranquilo. “Oriento que a cirurgia seja feita na sexta-feira para que a mulher possa repousar um pouquinho no final de semana e retornar ao trabalho já na segunda-feira. Nas duas primeiras semanas, é bom evitar atividades mais intensas, como agachar, assim como usar calças de tecidos grossos. É indicado também usar absorvente íntimo durante o primeiro mês, que é o tempo necessário para que a região esteja praticamente cicatrizada. Só o inchaço que dura cerca de três meses”, diz a especialista.
E O SEXO?
Apesar de se tratar de uma região sensível, os especialistas são unânimes ao afirmar que a sensibilidade não será prejudicada. “Em termos de relação sexual, ela está relacionada ao clitóris, não à pele dos pequenos lábios. Então, se a gente for pensar em excitação e orgasmo, não existe risco de perda. A não ser que você faça uma cirurgia íntima que envolva o clitóris”, esclarece o ginecologista.
Este foi o caso, por exemplo, da empresária Claudia Barreiros, 40, que se submeteu à cirurgia em fevereiro: “Eu fiz a ninfoplastia e também tirei o excesso de pele que estava em cima do clitóris. Isso aumentou a minha sensibilidade e agora consigo chegar ao orgasmo com mais facilidade. Então, posso dizer que para mim melhorou”.
Entretanto, antes de retomar a vida sexual, os especialistas aconselham uma pausa de 45 dias pós-cirurgia e o uso de lubrificantes após o intervalo.
RISCOS E CONTRAINDICAÇÕES
Patologia local e gravidez são as duas únicas contraindicações para as cirurgias íntimas. Já com relação aos riscos, Castro faz um alerta: “Os pequenos lábios e os pelos da região protegem a mulher de maneira geral contra infecções. Eles funcionam como barreiras naturais. A partir do momento em que você reduz a pele do local ou faz uma depilação total, pode ser que aumente a taxa de surgimento de vulvovaginite – inflamações na região da vulva e da vagina”.
DEPILAÇÃO E INFORMAÇÃO
De acordo com Taís, nos últimos quatro anos, a procura pelos procedimentos realmente tem aumentado. “E segundo trabalhos já publicados sobre o assunto, esse crescimento é decorrente da adesão cada vez maior à depilação. A área está mais desnuda e visível. Em paralelo, o aumento da informação sobre o assunto também funciona como estímulo”, conta.
No geral, o resultado é sempre muito satisfatório e mexe diretamente com a autoestima das mulheres. Afinal, é um desejo sempre muito particular. “Normalmente, elas nem contam para as amigas que fizeram. Tem paciente que não conta nem para o marido”, revela a médica.
“Me deixou muito mais feliz com o meu corpo e comigo mesma. É ruim você olhar para o espelho e não gostar do que vê, ainda mais quando se trata de uma região íntima. Eu indicaria o procedimento, sim. Fiquei satisfeita com o resultado e, em termos de dor, foi bem pouco dolorido”, relata Claudia.
ALTERNATIVA DERMATOLÓGICA
Ainda não existe uma alternativa menos invasiva para a ninfoplastica, mas para o enxerto de gordura, sim. “Quem quer acabar com a flacidez dos grandes lábios, pode fazer um preenchimento de ácido hialurônico ou de polietilenoglicol na região, que exigem apenas uma anestesia local. O resultado é imediato, mas em nenhum dos casos é definitivo. O primeiro dura 18 meses, enquanto o segundo se mantêm de 24 a 36 meses. Depois desse período, as substâncias são absorvidas pelo organismo e o efeito se vai”, explica Edislene Viscardi, dermatologista de Blumenau, Santa Catarina. Mas segundo a especialista, a satisfação é tão grande quando a de quem opta pela cirurgia. “Às vezes, você faz um botox na pessoa e ela nem acha tão bom quanto preencher a vulva.”
Odete Andrade*, 51, se deu conta há dois meses da flacidez da vulva e decidiu encarar o preenchimento de ácido hialurônico: “Não foi tão dolorido e ficou perfeito. Eu adorei! Do jeito que estava, eu não me sentia bem e ficava desconfortável na frente do meu companheiro. Me sinto mais segura agora”.
VALORES
Enquanto o preenchimento dermatológico pode variar de R$ 2.500 a R$ 5.000, de acordo com a quantidade de produto usada, a ninfoplastia pode custar de R$ 5.000 a R$ 6.000. Já a combinação com preenchimento varia pode chegar até a R$ 7.000.
*O nome foi trocado para preservar a identidade da entrevistada