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"Sou sexy e gosto do meu corpo como ele é", afirma modelo plus size

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A MODELO ROBYN LAWLEY SEM RETOQUES (À ESQUERDA) E COM TRATAMENTO DE IMAGEM (À DIREITA) (Foto: Reprodução/Instagram)

O corpo é um assunto que está sempre em pauta, seja na mídia ou na sociedade. Prova disso foi uma foto publicada na semana passada por Marie Claire da modelo Robyn Lawley, de 24 anos, sem retoques de Photoshop. O espanto do público, porém, não foi por ela mostrar sua beleza natural, mas sim por ser considerada plus size.

A australiana tem 81 quilos distribuídos em 1,82 metro de altura e usa manequim 44. Seu IMC (Índice de Massa Corporal) é 24,45, o que determina que ela tem um peso normal para sua estatura.  Mas, para os atuais padrões da indústria da moda, as medidas a classificam como plus size e Robyn se apresenta desta forma na sua página oficial. Entretanto, a repercussão do caso levantou novamente a questão: estamos nos preocupando de forma excessiva com a forma física? Até que ponto a indústria da moda dita os padrões de beleza fora das passarelas?

Raquel Santos, modelo plus size de 33 anos, diz se sentir feliz com suas curvas e não pensa em mudar de nicho. "Sou sexy e gosto do meu corpo como ele é", conta ela, que veste manequim 54. Ao longo dos anos, Raquel diz ter aprendido a se aceitar 'mais cheinha'."Acho que as meninas até uns 25 anos de idade não querem ser gordinhas. Então, eu fiz de tudo para emagrecer. Mas hoje eu me acho bonita assim. Sou uma mistura de curvilínea com gordinha, uma cheinha atraente (risos). Não posso reclarmar."

Procurada pela reportagem, Robyn Lawley não respondeu aos pedidos de entrevista.

ENTENDENDO OS PADRÕES DE BELEZA
Paulo Gibo, fotógrafo e fundador da agência de modelos São Paulo Plus Size, explica que as medidas determinam se uma modelo é plus size. "Elas não precisam ser gordinhas, as medidas valem mais. O principal é que tenham manequim a partir do 44 até o 62", afirma. A ideia de agenciar meninas com este perfil é que elas se sintam mais confortáveis com o seu corpo. "Elas têm que perceber que para ser bonita não é necessário mudar o manequim, mas saber valorizar seu físico com as roupas certas." O mercado para modelos com tamanho grande é amplo. Algumas delas chegam a fazer carreira internacional, como a brasileira Fluvia Lacerta, conhecida informalmente como a "Gisele Bündchen plus size", que já foi capa da revista Vogue italiana. No Brasil, a Fashion Weekend Plus Size completa dez anos em 2014.

CARREIRA NO MERCADO PLUS SIZE: RAQUEL SANTOS (À ESQUERDA) E FLUVIA LACERDA (À DIREITA) (Foto: Divulgação/Reprodução/Facebook)

Isso é um indicativo que formatos de corpos valorizados no passado estão aos poucos ganhando novamente espaço no presente. Segundo o historiador Luiz Aloysio Rangel, da PUC-SP, de fato, padrões de beleza foram sendo social e culturalmente ressignificados no decorrer da história. "A percepção que as pessoas têm sobre o próprio corpo é algo que muda de acordo com cada contexto histórico. E não podemos nos esquecer que até bem pouco tempo atrás, pessoas muito magras é que eram consideradas menos saudáveis do que os mais 'cheinhos'", diz. Na pré-história, mulheres com formas mais amplas eram vistas como ideais para a fertilidade. O mesmo acontece nos séculos 14 a 16, época do Renascimento, quando as curvas mais generosas eram relacionadas à saúde e vigor, como lembra o historiador Fernando Leão .

Essa premissa se manteve por um bom tempo e grandes ícones de beleza, como Marilyn Monroe, Brigitte Bardot e Sophia Loren, fizeram muito sucesso com suas curvas voluptuosas. Foi somente na década de 60 que a modelo inglesa Twiggy apareceu magérrima e instaurou seu biotipo seco como padrão de beleza. Nesta época, há também o advento das balanças domésticas, iniciando uma obsessão coletiva pela perda de peso. Depois, no meio dos anos 90, Kate Moss ajudou a consolidar o padrão, que ganhou até um termo pejorativo, o "heroin chic", pela aparência tão magra das tops que apareciam em ensaios como usuárias de drogas. Hoje, esse padrão de beleza ainda perdura no mercado da moda, mas com apelo saudável.

SOPHIA LOREN X KATE MOSS: PADRÕES DE BELEZA DE ACORDO COM CADA ÉPOCA  (Foto: Getty Images)

O IMPACTO NA SOCIEDADE
Tantas modificações de padrões estéticos culminaram com o que se convencionou chamar de "ditadura da balança", como lembra o historiador Luiz Aloysio Rangel. "Hoje, toda mulher sabe quanto pesa e que medidas de roupa utiliza. É o triunfo da ditadura da balança. Em nenhum outro momento da história, até a segunda metade do século 20, as pessoas tinham o peso e as medidas como característica identitária."

Esta busca por ideais de beleza e diferentes padrões impostos mexe com o consciente e afeta a autoestima das pessoas, com reflexos visíveis nos consultórios médicos. "Jovens e adultos demonstram insatisfação, pois não se sentem em conformidade com os padrões tanto femininos quanto masculinos circulados pela mídia. Como consequência, se sentem inseguros com sua autoimagem", afirma a médica-psicoterapeuta Gisela Pitanguy.

Ela ressalta ainda que é fundamental ter senso crítico para desconstruir modelos irreais e para aceitar o próprio corpo. "Hoje, entender que ser magro não é necessariamente ser saudável e feliz é um verdadeiro desafio. É preciso desenvolver outros valores: espiritualidade, afetividade e empatia porque o bem-estar é uma conquista mais interna do que externa", afirma.

 

 


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