
Malala Yousafzai fez uma reflexão sobre a tomada do poder no Afeganistão pelo Talibã vem causando medo entre os civis e prejudica principalemente as mulheres que são privadas de exercerem direitos como trabalhar e estudar, colocando em risco direitos conquistados pelas afegãs nos últimos 20 anos. O texto escrito pela ativista foi publicado no New York Times.
"Nas últimas duas décadas, milhões de mulheres e meninas afegãs receberam educação. Agora, o futuro que lhes foi prometido está perigosamente perto de desaparecer. O Talebã - que até perder o poder 20 anos atrás proibiu quase todas as meninas e mulheres de frequentar a escola e aplicou punições severas àquelas que os desafiaram - está de volta ao controle. Como muitas mulheres, temo por minhas irmãs afegãs".
A paquistanesa lembra o ataque que sofreu enquanto ia para a escola em 2009, então com 11 anos. "Não posso deixar de pensar em minha própria infância. Quando o Talebã assumiu minha cidade natal no Vale do Swat, no Paquistão, em 2007, e logo depois disso proibiu as meninas de receberem educação, escondi meus livros sob meu xale longo e pesado e caminhei para a escola com medo. Cinco anos depois, quando eu tinha 15 anos, o Talibã tentou me matar por falar abertamente sobre meu direito de ir à escola. Não posso deixar de ser grata pela minha vida agora. Depois de me formar na faculdade no ano passado e começar a traçar meu próprio caminho de carreira, não consigo imaginar perder tudo - voltando a uma vida definida para mim por homens armados".
"As meninas e jovens afegãs estão mais uma vez onde eu estive - desesperadas com a ideia de que talvez nunca mais tenham permissão para ver uma sala de aula ou segurar um livro novamente. Alguns membros do Talebã dizem que não negarão a mulheres e meninas educação ou o direito ao trabalho. Mas, dada ao histórico de suprimir violentamente os direitos das mulheres, os temores das afegãs são reais. Já estamos ouvindo relatos de alunas sendo rejeitadas em suas universidades, trabalhadoras de seus escritórios. Nada disso é novo para o povo do Afeganistão, que esteve preso por gerações em guerras por procuração de potências globais e regionais. Crianças nasceram para a batalha. Famílias vivem há anos em campos de refugiados - milhares mais fugiram de suas casas nos últimos dias", lembra.
Ela finaliza: "Os Kalashnikovs carregados pelo Talibã são um fardo pesado sobre os ombros de todo o povo afegão. Os países que usaram os afegãos como peões em suas guerras ideológicas e gananciosas os deixaram com o peso por conta própria. Mas ainda não é tarde para ajudar o povo afegão - especialmente mulheres e crianças".