Seis meses antes do início da Copa do Mundo, uma equipe de profissionais e colaboradores da ONG 27 Brasil percorreu as doze cidades escolhidas como sede do evento para mapear a situação do tráfico de pessoas no país. O resultado é o documentário "R$ 1 – O Outro Lado da Moeda", realizado em parceria com o Independence Studios, que vem sendo exibido em espaços públicos de oito das capitais que receberam os jogos.
“Quando se fala em tráfico de pessoas, já entedemos como o internacional, mas no Brasil o maior índice de pessoas é traficada internamente, entre regiões ou estados”, conta Tatiane Ripani, diretora da ONG que é um braço brasileiro da organização internacional 27 Million -o nome faz alusão aos 27 milhões de pessoas exploradas no mundo, a maioria crianças ou jovens.
No filme, a equipe conversa com algumas destas crianças e jovens, além de autoridades, assistentes sociais, voluntários de diversas organizações de combate à exploração sexual. Em capitais do Nordeste, como Recife, Salvador, Fortaleza e Natal, segundo Ripani, o grupo se deparou com pais que vendem os filhos para serem explorados. Em Goiânia, com um grande índice de mulheres enviadas para fora do país. Em Manaus, com a vulnerável situação de indígenas abusados (veja abaixo uma versão reduzida do documentário).
O “R$ 1” do título foi retirado do depoimento de uma das entrevistadas, a assessora parlamentar Damares Alves, que relata o caso de uma menina de 8 anos que abordou um colega de trabalho oferecendo sexo oral em troca de R$ 1. Mas também a vários casos envolvendo crianças em troca de um pacote de biscoito ou qualquer tipo de promessa, conta a diretora da 27 Brasil.
“A gente já tinha ideia de que essa situação [de abuso sexual] existia, o que nos causou surpresa foi ver com tudo começa. A maioria dos explorados estão numa situação de vulnerabilidade que começa na infância e tende a continuar.”
De acordo com a ativista, apesar de as diversas campanhas recentes terem trazido mais conscientização sobre o tráfico de pessoas, as estatísticas sobre o tema ainda são baseadas em denúncias feitas ao serviço Disque 100 ou em delegacias de polícia, informações que não são compartilhadas –o que dificulta o combate.
Além da exibição do filme, a equipe que viaja o país em um ônibus vem promovendo festas na rua e conversas em locais de prostituição reconhecidos das grandes cidades onde ocorrem os jogos. Cópias do documentário também são deixadas em escolas e associações de comunidades carentes.
“No último ano, aumentou o número de pessoas que conseguiu reconhecer uma situação de tráfico e acabaram fugindo de serem traficadas para exploração. Ao mesmo tempo, há um número grande de mulheres que se preparou para a Copa, aprendeu inglês e está nas ruas não só para a prostituição, mas ainda com a mentalidade que vai encontrar um príncipe encantado que vai lhe proporcionar uma vida melhor no exterior”, diz Ripani.