Um bebê branco, com bochechas pronunciadas e grandes olhos redondos numa expressão de surpresa. Em 1935, a foto foi escolhida para representar o modelo do “perfeito ariano”, a semente do que Hitler e seus seguidores acreditavam ser a raça superior. Só não atentaram para um detalhe: a fotogênica criança era também judia.
A alemã Hessy Taft, hoje uma professora de química em Nova York, revelou a história recentemente ao doar uma cópia de uma publicação nazista com sua imagem na capa ao Museu do Holocausto de Israel. “Hoje eu consigo rir disso tudo, mas se os nazistas soubessem à época quem eu era eu não estaria viva”, disse ao jornal alemão Bild.
Segundo a professora, um fotógrafo alemão chamado Hans Ballin fez a foto naquele ano em plena ascensão do Terceiro Reich, o governo totalitário liderado por Hitler. O partido nazista promovou um concurso para a escolha do bebê ariano perfeito e, sem o conhecimento dos pais de Taft, o fotógrafo inscreveu a foto dela no concurso. De acordo com a alemã, Ballin sabia exatamente o que estava fazendo. “Eu queria mostrar o quanto os nazistas era ridículos”, teria dito ele à mãe da professora.
A fotografia venceu o concurso e, em pouco tempo, a imagem se espalhou em várias propagandas nazistas. Taft afirma que seus pais a mantiveram em casa com medo de sofrer algum tipo de retaliação do partido -caso a origem do bebê fosse descoberta- até deixarem o país em fuga. A família migrou para os Estados Unidos, onde se estabeleceram em 1949, após atravessar a Europa fugindo da perseguição aos judeus.
“Eu sinto como uma pequena vingança”, disse a professora ao diário inglês Telegraph após doar a foto para o museu israelense. “É um sentimento de satisfação.”