Uma mulher nua em frente a dois homens sentados em um sofá. Durante quase meia hora, eles debatem todo tipo de questão acerca do corpo dela. O que gostam, o que não gostam, suas fantasias. A cena poderia ser descrita em um contexto ligado ao pior dos submundos, como um leilão de mulheres negociadas por barões do tráfico humano, por exemplo. Mas não. Esse é o novo programa da DR2, TV estatal da Dinamarca, considerado um dos países mais avançados do mundo. No comando está Thomas Blachman, ex- jurado do X-Factor dinamarquês e criador do conceito da nova atração, que a cada edição traz um convidado.
No início do programa, Blachman justifica o que virá pela frente dizendo coisas como “Nós sofremos por excesso de pornografia de um lado e puritanismo e politicamente correto do outro. E a poesia, onde foi parar? O corpo feminino está sedento por palavras, palavras vindas dos homens”, afirma. Ou: “Me aproximo de você com a nobre ambição de refazer a visão que a mulher tem sobre o que o homem pensa dela. Mas essa é uma missão muito assustadora para eu cumprir sozinho. Eu posso ser Blachman, mas também sou simplesmente um homem moderno – ou seja, mais mulher do que uma mulher espera ser. Infelizmente”, diz.
No programa que foi ao ar em 7 de maio, após a moça entrar no palco ele começou a divagar sobre o corpo dela com o convidado e, de cara, comentou: “Piercing no umbigo parece muito comum”. Um pouco mais à frente, o apresentador comentou que estava imensamente agradecido com a presença do convidado. Então se lembrou da moça nua à sua frente “Ah, e com a sua também”. Seguiu-se um diálogo de onde saíram frases como: “Apenas uma coisa é pior do que ser um objeto sexual: não ser um objeto sexual”. Ou: “Mostre-me uma mulher satisfeita e te mostro um elefante branco”. Enquanto batiam papo sobre relacionamento, lembranças da infância e masculinidade, a moça ficou ali dando sorrisinhos< à espera da próxima opinião sobre o corpo dela: “Então, seios são o que mais o excitam?”, perguntou Thomas ao convidado. “Eles são muito característicos numa moça”, foi a resposta.
Criou-se uma enorme polêmica em torno do programa, com críticos que acusam Blachman de machismo e de humilhar as mulheres. Ele se defende dizendo que o programa fala do corpo feminino sem puritanismo ou pornografia. Chegou a dizer: “Lembrem-se, estou lhes dando algo que vocês nunca viram”. A produtora da nova atração, Sofia Fromberga, disse ao jornal "Daily Mail" que os críticos não podem ter a palavra final sobre o que é bom ou não para os homens e para as mulheres. "Nós temos um programa que revela o que os homens pensam sobre o corpo feminino. Sinceramente, o que está errado com isso?".
Assistindo ao programa – o site do canal tem o vídeo na íntegra, e o programa do último dia 7 de maio está com legendas em inglês- pareceu claro o esforço do apresentador em intelectualizar, em fazer parecer nobre um quadro de TV que pode ser interpretado simplesmente como algo de profundo mau gosto. E que é apresentado por uma celebridade com um tom arrogante. Por outro lado, fica difícil não se perguntar o porquê de uma mulher se submeter àquilo. Queria saber de vocês, leitoras, o que acham do programa. Assistam ao vídeo aqui e dêem suas opiniões sobre a polêmica dinamarquesa.