Em “Flor do Caribe”, Alberto é um vilão inescrupuloso (e gato!) que faz de tudo, inclusive seduzir muito, para conseguir o que quer. Na vida real, Igor Rickli, intérprete do personagem, não esconde que também gosta de sedução. “É natural, sem forçar a barra. Só não pode cair na conotação sexual, que é mais pesada e íntima”, diz o simpático ator de Ponta Grossa, interior do Paraná.
Antes de conseguir o papel do vilão na novela das seis, Igor participou do filme "O Tempo e o Vento", de Jayme Monjardim, dos musicais "Hair" e "Judy Garland - o fim do arco-íris" e do seriado global "Vida Alheia". Agora, em meio às gravações de “Flor do Caribe”, o ator de 29 anos falou com exclusividade à Marie Claire sobre carreira, sucesso, assédio e sedução:
Marie Claire: Por que você decidiu ser ator?
Igor Rickli: É uma paixão de criança. Sempre fui apaixonado pela carreira e sabia que era isso que eu queria fazer. Mas morava no interior, então era algo distante da minha realidade. Tive oportunidade de fazer peças infantis na escola e, quando fiquei mais velho, pensei: "vou para o Rio de Janeiro tentar a carreira".
MC: Quando você se mudou para o Rio, arriscando tudo para ser ator, recebeu muitos “nãos”?
IR: Bastante! Cheguei com 22 anos, fiz vários testes, mas não tinha preparo, apesar de vários cursos. Estudei teatro na minha cidade, também em São Paulo, só que no início todo mundo é despreparado mesmo. Não tenho o perfil que a televisão quer logo de cara. Até chegar em “Flor do Caribe”, fiz pelo menos uns 20 testes.
MC: Qual foi a maior dificuldade no início da carreira?
IR: A adaptação ao ritmo do Rio de Janeiro, já que vim de uma cidade menor. Entender a malícia do lugar, como as coisas funcionam. Me preparar para os testes e encontrar os cursos corretos, pois têm muitos cursos ruins. Ficar longe de casa, do conforto da família também é complicado. Para falar a verdade, é um ambiente hostil: quando você chega do interior, vem com certa ingenuidade, acaba acreditando em tudo que as pessoas dizem.
MC: Alguma vez pensou em desistir?
IR: A ideia que passou diante das dificuldades foi ‘será que não é esse o caminho? Será que não é isso que tenho que fazer?’Analisava se estava sendo cabeça dura, insistindo em algo que não era para mim. Mas desistir, não pensei em momento algum.
MC: Você já teve que usar sua beleza para conseguir algum papel?
IR: Não exatamente, acho que o ator é um pacote. Não dá para separar beleza de caráter, depende muito do personagem. A beleza ajuda, sim, sem dúvida. Claro que me beneficiei dela para fazer alguns papéis que, se fosse diferente, não me convidariam. Por exemplo, em “Judy Garland” (musical sobre a cantora americana que ficou famosa na “Era de Ouro” de Hollywood), eu fazia o marido bonitão da Judy. Então, com certeza, a beleza física me ajuda a pegar alguns personagens.
MC: Já sentiu algum preconceito nos bastidores da novela por ter sido modelo e ator de musical?
IR: Não, de forma alguma. Até porque como modelo foi algo supercurto, não levei adiante. Quanto a musical, as pessoas têm a maior admiração e adoram trabalhar com quem vem dessa área. Pelo menos no meio artístico da Globo, é algo muito bem visto. Um bom ator tem mesmo que saber cantar, dançar a interpretar. É o caminho correto para um bom preparo.
MC: Você já ficou nu no teatro para a peça "Hair". A nudez, para você, é um tabu?
IR: Era, no início da peça. No contexto cabia aquela cena porque era um protesto contra a hipocrisia que existe no mundo. Essa questão da vergonha, do nervoso, está muito mais em quem está assistindo do que propriamente em quem encena.
MC: Ficaria nu para trabalhos na televisão?
IR: Não, acho que não. No teatro você está protegido pela arte. Na TV, a exposição é gigantesca, é difícil ser bem visto, pode ficar vulgarizado. Eu não ficaria nu na televisão.
MC: Você tem medo de ser ator de um personagem só e não “emplacar” na televisão depois da novela?
IR: Esse medo nunca tive. Mesmo porque temos que entender o que acontece em nossas vidas. Houve momentos em que eu queria muito um personagem na Globo e não conseguia, o que me deixava chateado. Então meti a cara no teatro, que é algo que amo e quero fazer para o resto da vida.
MC: Tem sentido os efeitos de seu personagem nas ruas? As pessoas estão com raiva do vilão?
IR: Sim, bastante, e esse feedback do público é muito legal. Por exemplo, recentemente teve uma cena muito forte quando o Alberto surta porque a Ester saiu de casa. Quando saí para resolver umas coisas na rua, as pessoas chegavam para mim, comentando: “caramba, o que aconteceu, ele enlouqueceu mesmo, é isso?”. Percebo que as pessoas torcem para que ele se regenere. Vêem que o amor por Ester é verdadeiro, apesar de ser inconsequente.
MC: O assédio feminino aumentou com o papel na novela?
IR: Muito (risos). A Globo te coloca em uma vitrine. As pessoas passam a observar mais, principalmente as mulheres, embora não seja nada descontrolado. Elas respeitam muito o fato de eu ser casado e não me causam problemas.
MC: Antes de ser casado, você era mulherengo?
IR: Mais ou menos. Não era completamente. Era moderado. Tive uma fase mais intensa na adolescência, mas depois passou.
MC: Acha que se envolver com alguém pode atrapalhar o começo de uma carreira?
IR: Depende. Se apaixonar, mesmo que não haja um compromisso, pode complicar um pouco, pois tira de foco e desvirtua o caminho. O amor é outra história e só soma. Neste caso é válido.
MC: Uma das características de Alberto é a sedução para conquistar Ester, personagem de Grazi Massafera. Na vida real, você é sedutor?
IR: Sim, assumidamente (risos). Mas tem que ter respeito. Não seduzo as pessoas de propósito. A sedução é quase como uma brincadeira. Acho que as pessoas seduzem com sorriso, com energia boa. Não faço isso para fazer as pessoas se apaixonarem e me desejarem. Isso nunca! O objetivo é fazer que quem esteja ao meu lado, independente de quem seja, se sinta bem e confortável.
MC: Seduzir é uma “chave” para chegar ao sucesso?
IR: Pode ser para algumas pessoas. É delicado e complicado isso, pode levar a territórios perigosos. Na verdade, chave para o sucesso é dedicação, estudo e muito esforço. Sedução, não.