Ronaldo Fraga costuma envolver causas sociais em seus desfile e, desta vez, não foi diferente. Para as peças da coleção de verão 2015 da São Paulo Fashion Week, que acontece no Parque Villa Lobos, o estilista se inspirou nas obras do artista Cândido Partinari, que retratava desde o lavrador de café até o cenário da sua terra 'fértil', Brodósqui. Em entrevista à Marie Claire, ele contou como surgiu essa ideia.
"Eu falo que não escolho o objeto pesquisado, eles que me escolhem. Conheci o João Portinari (filho de Cândido) há dois anos e quanto mais eu me encontrava com ele, mais me interessava. O legal do Portinari é retratar o Brasil. E eu tive vontade de entrar nessa história e me aprofundar", conta.
Dentre as peças, o estilista usou nas roupas e acessórios as principais cores do artista e também formas características de Portinari. "Eu vejo Portinari em tudo e queria que as pessoas também vissem. A coleção tem praticamente duas coisas: laranja e azul. E essa foram cores recorrentes nas obras do Portinari. Ele dizia que a inspiração desse azul é do céu da terra fértil, Brodósqui", explica. "Brinco com as formas geométricas que lembram um balão e pipas que também aparecem muito nas criações dele"
INOVAÇÃO É CHAVE DO SUCESSO
Recentemente, Ronaldo foi eleito um dos sete estilistas mais inovadores do mundo pelo "Design Museum", de Londres. Com isso, uma peça da sua coleção "Carne Seca", desfilada na temporada de inverno 2014 do São Paulo Fashion Week, será exposta na "Designs of the year", que acontece na capital inglesa até o dia 25 de agosto. A criação do estilista foi colocada ao lado de grandes nomes internacionais, como Prada e Dior. "Primeiro, levei um susto, não quando fui escolhido, mas sim ao ver quem eram os meus colegas que estavam lá e por eu ser o único não europeu", contou ele.
O prêmio veio justamente pela sua capacidade de inovação e reflexão cultural nas apresentações. Para o estilista, essa é uma forma de valorizar a moda brasileira. "É uma luz para a próxima geração de estilistas. Na minha, um brasileiro ter uma roupa no "Design Museum" ao lado da Prada e da Dior era algo quase que impossível. E a escolha foi por causa da moda como vetor cultural que é como a moda deve ser entendida", afirma.
Pensar a moda como fenômeno cultural é uma das grandes preocupações de Fraga. Apesar disso, ele acha que no Brasil ainda não se vê o mercado fashion dessa forma. "A moda tem que ser enxergada além da roupa, mas ela ainda não é. A moda está clamando para se libertar da roupa. Ela está cansada de ser vista enclausurada na roupa. E nos temos aí um cenário onde só se olha o lado ruim. Neste meio eu falo que sou otimista só de raiva", diz. Ele afirma ainda que o Brasil está começando a ser muito mais valorizado e, por isso, os estilistas brasileiros têm que aproveitar. "O momento de criar e encontrar um jeito nosso de fazer, pensar e comercializar é agora, porque todas as normas foram por terra".