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“Na pista não é lugar de ter frescura”, diz Priscilla Carnaval, atleta de BMX que compete na categoria masculina

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PRISCILLA CARNAVAL É UMA DAS INTEGRANTES DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE BMX (Foto: Reprodução/ Facebook)

A idade e a pouca altura nunca foram impedimentos para que Priscilla Carnaval, atleta da Seleção Brasileira de BMX, repensasse a decisão de disputar os campeonatos de bicicross na categoria masculina. O fato de ser mulher, menos ainda: “Eles respeitam minha carreira e me tratam como igual porque se perderem para mulher, fica muito feio”, disse durante entrevista exclusiva para Marie Claire.

Vaidosa, Priscilla falou sobre feminilidade em um esporte dominado por homens, as cantadas que recebe nas competições dentro e fora do Brasil e o sonho de se classificar para a uma vaga nos Jogos Olímpicos de 2016.

MARIE CLAIRE: Quando decidiu ser atleta de BMX?
PRISCILLA CARNAVAL:
meu irmão, que é quase dois anos mais velho do que, sempre foi meu espelho para tudo. Então, uma vez, estávamos passando em frente a um campeonato de BMX e ele pediu para o meu pai parar o carro para assistirmos. Adoramos! Ele pediu para começar a praticar e é claro que eu pedi também. Então começamos. Isso foi em 2001, eu tinha só sete anos. Desde então, nunca mais paramos.

M.C.: E como foi que chegou à Seleção Brasileira?
P.C.:
Foi em 2010, eu tinha 16 anos. Eu e meu irmão entramos juntos, mas o caminho até lá foi difícil. Nunca tinha tido um treinador. Descobri o mundo do BMX, as técnicas, as manobras, assistindo vídeos de competições realizadas no exterior. Fui melhorando e assim conseguindo me destacar em campeonatos paulistas e brasileiros, principalmente por conta da minha técnica de pulo. Aí chegou o convite para integrar a equipe da Seleção. Fiquei muito feliz e, logo na minha primeira competição fora do Brasil, em Quito, no Equador, já ganhei um título.

COMPTINDO NA CATEGORIA MASCULINA, PRISCILLA DIZ QUE HOMENS SÃO MAIS AGRESSIVOS "ÀS VEZES TENHO QUE PULAR ENTRE DOIS, TRÊS DELES" (Foto: Reprodução / Instagram)

M.C.: Você acabou de participar da Copa Regional em Paulínia e competiu na categoria masculina. Como foi essa experiência?
P.C.:
Aqui no Brasil nós não temos um nível tão alto nas competições femininas e o número de competidoras também é pequeno. Por isso decidi competir na categoria masculina, para disputar com atletas mais de igual para igual. Os homens também são mais agressivos, assim como as mulheres lá de fora. Tem que ser firme para conseguir se manter na bike. E como tenho dificuldades nessa parte, tive que encontrar um jeito para evoluir. Mas só posso competir na categoria masculina em campeonatos regionais. Nos demais, sou federada na categoria feminina, então obrigatoriamente devo competir com mulheres.

M.C.: E eles te respeitam?
P.C.:
Sim, me tratam como igual, porque se perderem para mulher, fica muito feio! (risos) Se precisar, eles se jogam mesmo pra cima de mim. Muitos são meus amigos e respeitam minha experiência, meu profissionalismo. É claro que na pista fico com um pouco de receio, às vezes tenho que pular entre dois, três deles e até um pouco perigoso. Mas isso faz parte do crescimento e me ajuda a ter mais coragem e ficar ainda mais confiante na hora das manobras.

M.C.: No meio de tantos homens, como fica a sua feminilidade?
P.C.:
Sou muito vaidosa! Minha unha nunca fica sem pintar, por exemplo. E eu adoro cores diferentes, bem chamativas. Também não deixo de usar lápis e máscara para cílios, nem durante as competições. Mas tem que saber separar, a pista não é lugar para ter frescura. Não me importo em ficar ralada, roxa, desarrumada, descabelada durante os treinos. Os momentos que a gente vive são bem mais importantes do que qualquer suor.

CONSIDERADA ATLETA REVELAÇÃO DO CICLISMO BRASILEIRO, PRISCILLA BUSCA AGORA UMA VAGA NOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016 (Foto: Divulgação)

M.C.: E as cantadas? São muito frequentes?
P.C.:
Sim, bastante (risos). Não tem muitas meninas femininas no mundo do BMX, então, a gente que é mais vaidosa acaba chamando a atenção dos homens. Eu levo na boa, na amizade, mas prefiro não ficar com ninguém do ciclismo. Todos os atletas se conhecem e iria ficar chato. Mas trato todo mundo bem, não quero deixar ninguém chateado.

M.C.: Como está se preparando para os Jogos Olímpicos de 2016?
P.C.:
Participar de uma Olimpíada é meu sonho desde muito tempo. Durmo e acordo pensando nisso. Nos últimos Jogos não consegui me classificar, tinha acabado de entrar na categoria máxima e era realmente muito difícil. Mas foi por pouco! Agora estou treinando todos os dias, de manhã, à tarde e à noite. Tranquei meu curso na Universidade, estava estudando Arquitetura e Urbanismo, para me dedicar exclusivamente ao esporte. Quero fazer história, ser um incentivo e uma inspiração para os mais novos, mostrar que é possível. Também vim de baixo e a capacidade está dentro da gente.

 


 


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