Em 15 anos à frente da marca de acessórios de couro, Marc Jacobs criou espetáculos na passarela, com carrosséis e escadas rolantes, e uma profusão de bolsas que injetavam criatividade e desejo no acessório que move as caixas registradoras da moda. A roupa, ainda que sedutora, sempre pareceu coadjuvante - por assim dizer, o acessório das bolsas Louis Vuitton.
Aclamado como o costureiro contemporâneo entre os estilistas da geraçao 40 (Raf Simons, Hedi Slimane e Jacobs), Nicolas Ghesquière fez justamente o contrário. Enxugou a pirotecnia: o bloco montado no Cour Carrée du Louvre era branco, inundado com a luz natural de um dia de inverno ameno e claro de Paris, e pontuado com blocos para os convidados se acomodarem. Diante dos olhos de uma primeira fila estrelada com estilistas como Jean-Paul Gaultier, Azzedine Alaïa, Stefano Pilati e Pierre Hardy, Ghesquière foi comedidíssimo na quantidade de bolsas - todas de mão e pequenas, bem à moda Jackie K, e algumas recuperando o monograma original da LV - e não teve pudor em simplesmente mandar modelos de mãos abanando na passarela. Tudo para deixar claro que a LV pode sim ser um destino de compras de casacos, saias e vestidos.
Com uma inspiração evidente nos anos 60, gráficos, mod e em linha A, o estilista propõe cores neutras e uma fusão entre o couro e o tweed. No meio de uma profusão de saias evasês, calças justas e um único macacão bicolor, além de vestidos de seda floridos com recortes safados na cintura.
Na economia de recursos, Ghesquière apresentou poucas e fortes bijoux, todas douradas: colares à moda Pierre Cardin e maxibrincos usados apenas na orelha esquerda. Se o Cour Carrée du Louvre não veio abaixo em aplausos, não há motivo para duvidar do passo Ghesquière na LV. As araras vão provar que a marca faz moda, daquelas que não estão em qualquer lugar. Ah, sim, e como primeiro passo, o estilista faz uma graça: uma botinha mod monogramada que tem tudo para fazer as pazes da elite da moda com o monograma mais copiado do planeta.