Raf Simons não dá entrevistas, nem antes nem depois de seus shows. Também não circula pelo backstage no momento da make ou do cabelo. Discreto, o estilista belga à frente da Dior prefere que suas criações falem por si. E é somente no release entregue já na sala de desfile (montada já há algumas temporadas nos jardins do Museu Rodin) que dá indícios do que em breve estará na passarela. Ali, Raf revela que irá propor uma nova mulher: com força e energia. Se na temporada anterior ela caminhava entre flores, agora está mudada e disposta a circular pelas grandes cidades.
Assim que a primeira modelo pisa na passarela, tudo passa a ser uma elegante brincadeira entre o universo masculino e o feminino. O principal fio condutor é a alfaiataria, cercada por detalhes adocicados e outras manias do guarda-roupa das mulheres.
Desde o princípio o objetivo do estilista era o de recuperar os códigos da casa e modernizá-los. As peças desfiladas hoje sem dúvida reafirmam sua intenção. A clássica bar jacket, o casaqueto acinturado lançado pela maison em 1947, chega repaginada. Se transforma em colete alongado, paletós crescidos e ganha cadarços laterais que delineam a silhueta. A assimetria também garante um toque contemporâneo aos looks: muitas peças chegam com plissados desiguais e inusitados.
A cannage - a icônica palha entrelaçada típica dos acessórios da marca - também é recuperada: surge em nylon, decorando vestidos e acessórios. O matelassê da bolsa Lady Dior e o vermelho 999 dos míticos vestidos de alta costura da marca também são lembrados. As peças de tonalidades intensas, por sinal, respondem por grandes momentos da apresentação. Assim como os divertidos sapatos de salto stiletto e formato de tênis.
O ponto final do desfile é dado com vestidos cintilantes e salpicados por paetês. Estão sobrepostos a combinações e brincam com transparências elegantes. Sem dúvida na Dior do século 21, o passado, o presente e o futuro andam juntos. E agora de mãos mais dadas do que nunca.