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O esconderijo de Kate Middleton: conheça Cotswolds, o countryside chique da Inglaterra

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Paredes medievais cor de caramelo e curvas sinuosas nas ruas de Castle Combe (Foto: Marcio Scavone)

Poucas pessoas atraem tanto os olhares do mundo, hoje, quanto Kate Middleton. A duquesa de Cambridge, casada com o príncipe mais cobiçado do século 21, William, tem o poder de transformar tudo que toca – roupa, joia, comida, lugar – em tendência. Linda, sofisticada e discreta, ela é paparicada por relações públicas de marcas de luxo e instituições de caridade. Para o aniversário de 30 anos do marido, em junho passado, Kate organizou um jantar para amigos e família em Highgrove, casa de campo de Charles, seu sogro. Na tarde antes do evento, Kate foi a Tetbury, cidadezinha com pouco mais de seis mil habitantes, próxima a Highgrove. Lá, comprou itens para a festa, como champanhe e frutas orgânicas, e aproveitou para passar em um dos muitos antiquários de decoração (são ao todo 25!) que estão na Long Street, rua principal com apenas cinco blocos. Acompanhada de uma assistente e seguida por dois seguranças, Kate não causou grande comoção na vila. Os moradores estão acostumadíssimos a vê-la por ali: a duquesa é habitué de Tetbury, para onde costuma ir principalmente no verão, e onde comprou parte do décor de sua casa com William (que fica em Anglesey, no País de Gales). Tamanha publicidade seria um sonho para qualquer um, mas os comerciantes da cidade não pagaram um centavo para que Kate fosse até lá.

Tetbury fica bem no coração de Cotswolds, região supercharmosa no interior da Inglaterra, pouco mais de uma hora a noroeste de Londres. Repleta de vilarejos pequeninos – são mais de 100 –, que mal chegam a mil habitantes, tem como marca registrada lindas casas medievais, ainda habitadas, feitas de oolite, uma pedra sedimentar de cor caramelo, e cobertas por heras até o teto. Durante séculos, Cotswolds parece ter sido um segredo muito bem guardado pela aristocracia inglesa, que tinha o local como um refúgio do agito urbano. Eram finais de semana repletos de partidas de polo, caminhadas leves nas colinas e finais de tarde com chá e bolo entre amigos. Nos últimos anos, entretanto, o cotidiano tranquilo ganhou um ar mais posh termo em inglês para “grã-fino”). Celebridades passaram a migrar para Cotswolds em bando, e não apenas em feriados prolongados. Os atores Hugh Grant e Kate Winslet, a estilista Stella McCartney, o artista plástico Damien Hirst, as modelos Liz Hurleye Kate Moss e a cantora Lily Allen não só compraram casas, mas se mudaram de vez para lá. As duas últimas, inclusive, celebraram seus casamentos com festas no melhor estilo rústico-chique: à luz do dia, em um gramado, com convidadas usando chapéus e vestidos soltinhos.

Berkeley Castle: construído por volta de 1100, é o castelo privado mais antigo da Inglaterra (Foto: Marcio Scavone)

Eles moram em casas com no mínimo 400 anos de idade, mas algumas delas podem chegar a quase um milênio de existência. É o caso das propriedades em Castle Combe, vilarejo que parece ter pal rado no tempo, com apenas 300 moradores e que serviu de locação para o filme Cavalo de Guerra (2011), de Steven Spielberg. O comércio local, por exemplo, não tem atendentes. Bolos caseiros, sucos orgânicos e cookies crocantes são dispostos em frente aos estabelecimentos, em charmosas barraquinhas. Quem se interessar, pega o que deseja e deixa o dinheiro ali mesmo. Com o boom imobiliário – se é que é possível usar esse termo para casas construídas há séculos –, vieram novos restaurantes, hotéis, lojas e, claro, visitantes. É ali que fica o The Manor House, um dos hotéis com as instalações mais antigas do país. O lindo prédio em formato de castelo data do século 14 e já recebeu chefes de Estado e grande parte da realeza, em seus chalés com décor individualizado, com cabeceiras de ferro, papel de parede e lareira. É sofisticado sem ser pomposo – e muito aconchegante. Na biblioteca, visitantes leem à vontade enquanto experimentam uma taça de Nyetimber, um suave espumante britânico.

As locações românticas inspiram muitos casais em lua de mel ou que celebram aniversário de casamento, mas já há turmas grandes atrás de esportes ao ar livre que são praticados ali, como trekking e mountain bike. Para eles, em especial, Cotswolds revela uma de suas vocações mais recentes: a produção de orgânicos. Como um circuito fechado e autossustentável, os comerciantes se organizaram de tal forma que praticamente tudo que é necessário para viver é produzido por lá: dos alimentos ao mobiliário.

Duas cenas do Farmer´s Market, em Stroud. O mercado, que acontece aos sábados, é o maior de produtos orgânicos da região (Foto: Marcio Scavone)

CENÁRIO IDÍLICO
Aos sábados, o programa é ir ao farmer’s market de Stroud, célebre mercado orgânico de Cotswolds ao ar livre, onde os principais produtores montam pequenas tendas para comercializar suas iguarias. Os queijos são especialmente saborosos: de um cheddar tão cremoso que chega a derreter na hora de cortar, resultado de quase um ano de maturação, até o Penyston, que tem casca rígida e interior maleável – e que ganhou três prêmios importantes de gastronomia. Há filas de ervas, verduras e frutas perfumadas e supercoloridas, todas recém-colhidas. Nas mesas dispostas no centro do mercado, casais descolados almoçam sanduíches feitos com embutidos também produzidos ali. Crianças ruivas correm de um lado para o outro atrás das barracas de doces de maçã e abóbora. Ambiente parecido, só que um tanto mais formal, tem o Daylesford Organic, mix de mercearia, restaurante, escola de gastronomia, loja de cashmere e até spa em Kingham. Aberto todos os dias, é administrado por Lady Bamford, socialite excêntrica que raramente aparece em fotos ou entrevistas.O ambiente sofisticado, com décor minimalista e janelões que dão para um jardim, só é superado pela qualidade dos produtos à venda.

O príncipe Charles, um entusiasta da sustentabilidade há décadas, foi um dos incentivadores do tema na região. Há cinco anos, ele inaugurou a Highgrove Shop, em que vende produtos orgânicos produzidos nos jardins de sua casa de campo. Trata-se de uma pequena e charmosa loja em Tetbury – ali mesmo, onde Kate Middleton costuma passear de vez em quando – em que comercializa chás, geleias, aparatos de jardinagem, cachecóis e o famoso (e suave) mel de Highgrove. Tudo, claro, marcado com o brasão real. “O príncipe é um entusiasta da alimentação saudável”, conta Stephen Clarke, que comanda o dia a dia da loja. “Cotswolds se tornou, nos últimos anos, uma espécie de reduto sustentável no país. Sem dúvida é um dos motivos pelos quais se tornou tão popular.” A poucos passos de distância, descendo a rua, fica a Amy Perry Antiques, antiquário tão descolado que parece uma loja de móveis contemporâneos – e que tem como fãs a própria Kate também Lily Allen, entre outras celebs. As vintage shops são outra razão da badalação em torno e Cotswolds. “Há por aqui um movimento de resgate do que é verdadeiramente britânico”, conta a decoradora Amy, uma ruiva lindíssima, com sotaque aristocrático. “Os nossos antiquários seguem essa tendência. São diferentes, têm uma pegada offbeat (irreverente). Não se vê algo assim em nenhum outro lugar do mundo – pelo menos não na mesma quantidade.”

À esquerda, detalhe de uma roseira no jardim da Stanway House, mansão de um dos personagens mais célebres de Cotswolds, Lorde Wemyss. À direita, Amy Perry, que possui um antiquário frequentado por Kate Middleton (Foto: Marcio Scavone)

CONHECENDO COTSWOLDS
Por ser pequenina, a maneira mais agradável de conhecer a região é escolher uma ou duas cidades-sede e visitar as outras em passeios de um dia, que podem ser feitos com carros alugados, taxis ou até de bike. É possível chegar de trem, a partir de Londres, a Bath ou Oxford e começar a viagem por ali. Seja qual for o local escolhido, entretanto, a paisagem não muda muito: há sempre uma rua principal, em geral comum riozinho, casas de pedra de cor caramelo a perder de vista e comércio charmoso, com pequenos e deliciosos restaurantes. Mesmo assim, alguns destinos se destacam, como as lindas Lower e Upper Slaughter, cidades vizinhas em que as ruas são tão pequenas que carros quase não entram. Há minipontes espalhadas por todos os lugares, inclusive entre as residências, formando um cenário tão belo quanto surreal. A gastronomia é inglesa tradicional (fish and chips, torta de maçã, peru assado com ervilhas etc.) com um leve toque contemporâneo, mas sem a formalidade da culinária molecular. Têm destaque chefs como David Everitt-Mathias, do Le Champignon Sauvage, em Cheltenham, que conquistou recentemente sua segunda estrela no guia Michelin.

À noite, nada de dormir cedo. Há bares e pubs agitados na região, muitos inaugurados recentemente. Abertos até o início da madrugada, eles resgatam a tradição britânica da cultura boêmia, que sempre foi bastante intensa no campo. Afinal, as celebridades recém-chegadas não querem apenas cenários românticos e mansões confortáveis: elas não abrem mão de um bom pub. O principal hotspot é, sem dúvida, o The Kingham Plough, em Kingham, misto de bar, restaurante e pousada administrado pela jovem Emily Watkins. O frequentador mais assíduo do lugar, que se assemelha a uma taverna medieval, é o primeiro-ministro David Cameron. Também estão na lista de habitués os atores Colin Firth e Cameron Diaz e a supertop Kate Moss. Temos que abrir todos os dias, porque lota sempre!”, conta Emily. “A partir do meio-dia, os clientes já começam a encher o bar.”

Fora o roteiro tradicional de mercadinhos gourmet e parques como o Painswick Rococo Garden (www.rococogarden.co.uk), no alto de uma colina, há ótimos passeios que não costumam constar nos guias de viagem. A Stanway House (www.stanwayfountain.co.uk), supermansão do século 16, é onde mora Lorde Wemyss, herdeiro de uma família aristocrática escocesa e que possui grandes propriedades em outros lugares do Reino Unido. Aberta para visitas apenas no verão, tem impressionantes peças de época e um dos maiores jardins da região. Imperdível também é o imponente Berkeley Castle (www.berkeley-castle.com), castelo privado mais antigo da Inglaterra. Construído no ano de 1100, ainda é habitado pela família Berkeley, já em sua 28a geração. O herdeiro Charles Berkeley, que vive ali com a mulher e os filhos, adora contar histórias sobre a propriedade. “Em 1216, o rei João I tomou o castelo de minha família, mas seis anos depois conseguimos recuperá-lo”, diz. “Berkeley também foi palco do assassinato de um rei. Em 1327, Eduardo II foi morto em um dos quartos do castelo. Muitos acreditam que isso ocorreu em represália ao suposto fato de Eduardo ser homossexual.” Apesar de particular, o imóvel pode receber visitas algumas vezes por semana, de acordo com a disponibilidade de seus proprietários. Algo bem exclusivo e insider, como Cotswolds costuma ser.

Na primeira foto, moradora em café da charmosa cidade de Tetbury. Logo abaixo, hotel de Manor House: construção do século 14 (Foto: Marcio Scavone)

ONDE FICAR
THE MANOR HOUSE, CASTLE COMBE – Um dos hotéis mais antigos de Cotswolds, está instalado em uma mansão incrível do século 14. As suítes, diferentes umas das outras, são superluxuosas e enormes, a maioria com sala de estar e lareira. Tem um ótimo restaurante, com uma estrela no guia Michelin, administrado pelo jovem chef Richard Davies, que cria pratos a partir de uma horta orgânica instalada na propriedade. Diárias a partir de US$ 320. www.manorhouse.co.uk

THE SNOOTY FOX, TETBURY – Pequeno, simples e muito charmoso, é uma espécie de hospedaria chique, com um minirrestaurante em anexo e um bar que costuma lotar após às 18h. Temo melhor custo-benefício de Tetbury, cidade célebre pelos antiquários e pela loja de orgânicos do príncipe Charles. Diárias a partir de US$ 85. www.snooty-fox.co.uk

HOTEL DU VIN, CHELTENHAM – Fica em uma das maiores cidades da região, Cheltenham, um bom ponto de partida para conhecer os vilarejos ao redor. Os quartos são superconfortáveis e modernos, todos com vista ampla. O restaurante, no subsolo, oferece, aos domingos, o brunch mais disputado da cidade. A localização é ótima, a poucos passos do centro comercial. Diárias a partir de US$ 240. www.hotelduvin.com

THE KINGHAM PLOUGH, KINGHAM – Misto de pousada, restaurante e pub, é um dos lugares mais badalados de Cotswolds, frequentado por gente como o primeiro-ministro David Cameron. A chef e proprietária, Emily Watkins, é uma jovem empreendedora que transformou uma antiga taverna em um estabelecimento supercharmoso, com ótimo serviço e gastronomia.Tem apenas sete suítes, todas muito românticas, com camas com dossel e banheiras de ferro. Diárias a partir de US$ 92. www.thekinghamplough.co.uk

À esquerda, Lorde Wemyss em sua casa, na saleta em que costuma tomar o chá das 5. Abaixo, a suíte do Hotel Manor House. Na foto à direita, uma das muitas salas com lareira da Stanway House, magnífica mansão do século 16 (Foto: Marcio Scavone)

ONDE COMER
DAYLESFORD ORGANIC, KINGHAM –
A maior loja de orgânicos de Cotswolds tem também um dos restaurantes mais saborosos da região. É delicioso o risoto com quinua, cogumelos e mix de queijos produzidos ali mesmo. Os sucos, todos frescos, são feitos a partir de frutas da horta própria. Refeições a partir de US$ 35. www.daylesfordorganic.com

LE CHAMPIGNON SAUVAGE, CHELTENHAM – David Everett-Mathias é um dos chefs mais estrelados da Inglaterra, graças a esse pequeno restaurante. Pioneiro da alta gastronomia em Cotswolds – está ali há quase 20 anos – prepara pratos como steak tartar com wasabi e shimeji e vieiras compurê de amêndoas.Menu degustação,com nove pratos, a partir de US$ 100. www.lechampignonsauvage.co.uk

THE CHEF’S TABLE, TETBURY – Escondido atrás de uma portinha na rua principal de Tetbury, esse restaurante é um charme só. No primeiro andar, há uma rotisserie e café que serve deliciosos bolos orgânicos. No andar de cima, o chef prepara três ou quatro pratos do dia, em uma cozinha aberta bem no meio das mesas. Saladas, sanduíches e tortas saborosas são o foco. Refeições a partir de US$ 20. www.thechefstable.co.uk

THE CASTLE INN, CASTLE COMBE – O foco é a gastronomia típica da Inglaterra, como fish and chips e cordeiro com ervilhas frescas. Apesar do menu sem grandes invenções, esse delicioso restaurante tem uma excelente carta de vinhos e cervejas, além de localização superprivilegiada, bem no meio da rua principal de Castle Combe, cidade histórica com quase 1000 anos de existência e 300 habitantes. Refeições a partir de US$ 30. www.castle-inn.info

Na primeira foto, álbuns de família Wemyss na mansão Stanway House, em Cheltenham. Abaixo, carro antigo na cidadezinha Kingham (Foto: Marcio Scavone)

QUANDO IR
O período mais agradável para a visita é na primavera, entre abril e junho, que tem média de 16ºC e dias secos. É a melhor época para praticar caminhadas e andar de bike. No verão, de junho a setembro, a média fica em 23°C, mas é também a estação de maior movimento. No outono e no inverno, o frio pode chegar a temperaturas negativas e chove mais. A paisagem, no entanto, continua linda, com folhas secas e lagos congelados. A British Airways (www.britishairways.com) tem voos diários para Londres, saindo de São Paulo e do Rio, a partir de US$ 1.330 por pessoa (ida e volta). Seguindo as tradições britânicas, desde fevereiro, a companhia passou a oferecer um chá desenvolvido com exclusividade pela Twinnings. Servido em todas as classes, tem sabor mais apurado, ideal para degustação em grandes altitudes.

Agradecimentos:
Visit Britain (www.visitbritain.com) e British Airways

Sobremesas da British Airways (Foto: Marcio Scavone)

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