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Missing Children: aplicativo brasileiro ajuda a encontrar crianças desaparecidas

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1. Nacipio 2. Thaise Renata 3. Renata Helena 4. Lucas 5. Alice 6. Stephany 7. Elaine 8. Danilo 9. Manoel 10. Charles 11. Marcelo; todas crianças desaparecidas e procuradas pela associação Mães da Sé (Foto: Divulgação)

Pilhas de papéis se acumulam na mesa de Ivanise Esperidião da Silva, 52 anos, no modesto escritório da associação Mães da Sé, no centro de São Paulo, onde as paredes amarelas estão abarrotadas com fotos de crianças. “Esses papéis são os cadastros mais recentes, ainda sem catalogar”, diz a presidente da ONG, que todos os dias recebe três novos pedidos de ajuda. Muitos são de mães desesperadas com o sumiço de um filho, que elas perderam de vista e não conseguem mais achar. Ivanise conhece de perto o drama. Às 20h do dia 23 de novembro de 1995, ela estava em sua casa, na Zona Leste de São Paulo, quando a filha Fabiana, de 13 anos, saiu para uma festa de aniversário. Estava acompanhada de uma vizinha. As duas adolescentes passaram algumas horas no evento, voltaram juntas ao bairro e se despediram na calçada. A amiga chegou bem à sua casa. Fabiana, que estava a um quarteirão de onde morava, nunca mais foi vista.

Naquela noite, Ivanise começou uma busca frenética que dura até hoje. Logo nos primeiros dias, falou com os convidados da festa, com amigos da filha e seguiu todas as pistas de quem pensava ter visto a jovem. Fazia tudo em paralelo ao trabalho da polícia. “Parei de trabalhar e comecei uma missão solitária. Percorria hospitais e institutos médicos legais. Andava pelas ruas de São Paulo de madrugada. Não tinha medo. Uma mãe não tem medo de nada”, desabafa, com a voz embargada. Hoje, Fabiana pode ser uma mulher de 30 anos, se estiver viva. Contudo, a dúvida não permite que Ivanise chore por uma eventual morte da filha.

generosidade (Foto: divulgação)

Logo nas primeiras semanas de busca, ela conheceu outras duas mães presas dentro do mesmo pesadelo. Decidiu fundar a ONG Mães da Sé para aumentar as chances de cada uma, e vem trabalhando nisso desde então. Vê em si mesma e nas colegas as sequelas desse drama. “Eu me divorciei, passei a tomar calmantes para dormir. Desenvolvi hipertensão e problemas cardíacos. Estive à beira da loucura mesmo, tudo em decorrência do desaparecimento”. Os problemas se acumulam para todas. “A maioria dos casos é de mães que são ou solteiras ou foram abandonadas pelos maridos por causa do desaparecimento. Então, em vez de um grande problema, elas têm dois ou mais. Muitas vezes, procura o filho sozinha e perde o emprego porque falta no trabalho. Aí, começa a passar por dificuldades financeiras, até que falta comida.”

Felizmente, no entanto, os anos de angústia chegam ao fim para algumas mães. E tudo por conta da ONG. Quando uma delas é encontrada, Ivanise sente a própria energia se renovar. “Cada vez que alguém é achado, a esperança de ver minha filha outra vez se reacende a mil por cento”, explica. Até agora, já foram 2.657 famílias que a Mães da Sé ajudou a reunir. Outros 212 casos se encerraram, infelizmente, com a descoberta da morte da pessoa procurada.

Os reencontros só são possíveis, ela explica, por causa da visibilidade. As três mulheres da ONG se desdobram para fazer as fotos circularem pelo país, mas sabem que o desafio é grande. “A divulgação é nossa maior ferramenta de trabalho, mas ainda é a maior dificuldade”, diz Ivanise.

A ESPERANÇA
Por conta desse enorme obstáculo, ela ficou animada quando recebeu, há um ano, um telefonema do publicitário Marcos Valeta, da agência Africa. A equipe dele havia desenvolvido um aplicativo capaz de mostrar fotos de desaparecidos em pesquisas do Google, a maior ferramenta de buscas online do mundo. “A ideia era aproveitar um segundo do tempo das pessoas para para que olhassem essas crianças”, conta o publicitário Pedro Lazera, idealizador do projeto em parceria com o colega Ricardo Sarno. O app foi batizado de Missing Children, em inglês mesmo, para facilitar uma possível expansão a outros países, e funciona assim: sempre que alguém procura algo no Google Images, as primeiras cinco fotos são de crianças desaparecidas. Para que isso aconteça, no entanto, o usuário precisa instalar o app no navegador de internet Chrome.

Em 2013, a equipe da África digitalizou 900 fotos do cadastro da Mães da Sé. Também fechou parcerias com duas universidades de São Paulo: a PUC-SP e a Uninove, depois que os professores Paulo Henrique de Oliveira Lopes e Adélio Gonçalves apresentaram a ideia por lá. O aplicativo também ganhou importantes prêmios publicitários, como o Leão de Prata no festival francês Cannes Lions, o que deu mais visibilidade ao projeto. Quanto à digitalização das outras mais de mil fotos de crianças do arquivo da ONG que ainda não passaram pelo processo – e dos novos casos, que não param de chegar –, a equipe da Africa diz procurar recursos financeiros para continuar o trabalho.

Agora, o objetivo é usar a internet para fazer do Missing Children um “viral”, ou seja, torná-lo capaz de ser visto, compartilhado e instalado por milhares de brasileiros. Uma boa ajuda para isso começa este mês, quando um time de celebridades vai divulgar o app em suas redes sociais. A lista inclui os cantores Wanessa Camargo e Rogério Flausino, e a apresentadora Sabrina Sato, que se diz emocionada com a causa: “É o mínimo que posso fazer como cidadã. Penso que pode acontecer com qualquer um de nós e deve ser a pior sensação do mundo não saber o que houve com seu filho.”


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