Clarice Falcão já participou de uma novela das nove na TV Globo. Ela era Mariana, de "A Favorita", filha da personagem de Lília Cabral, um dos destaques da trama. Mas não foi a exposição na televisão em horário nobre que transformou o nome de Clarice conhecido do público. A pernambucana de 23 anos é uma das cabeças por trás do "Porta dos Fundos", coletivo de humor que produz esquetes na internet e se transformou em fenômeno de audiência nacional na era das redes sociais. Antes disso, o nome e o rosto da atriz, roteirista e cantora já rondavam as páginas eletrônicas por meio de curtas, clipes e canções. E é por isso que Clarice lançará seu primeiro álbum, “Monomania”, exclusivamente na web. "Eu até conversei com algumas gravadoras, mas iria colocar um intermediário entre mim e o público. E não precisa, prefiro manter o contato direto que já existe com os fãs . Afinal, foi por meio da Internet que tive as melhores respostas", fala. Hoje, seus vídeos no Youtube somam mais de 16 milhões de visualizações.
O álbum estará disponível para venda no iTunes a partir do dia 30 de abril, mesma data em que Clarice dá início a uma turnê, no Solar de Botafogo, Rio de Janeiro. Clarice conversou, com exclusividade, com Marie Claire sobre o novo projeto, humor, preconceitos e a relação com o namorado, o também ator Gregório Duvivier. Confira o bate-papo completo:
Marie Claire: A música-título do seu primeiro álbum, "Monomania", fala sobre alguém obsessivo com um único assunto ou pessoa. De onde veio a inspiração para criar a letra?
Clarice Falcão: Na verdade, eu não me inspirei em histórias de amor, como pode parecer. Quando comecei a compor, mostrava tudo para a minha mãe, que dizia "Ah, que legal!". Só que chegou uma hora que ela cansou e disse: "Tá bom Clarice, já entendi que você anda compondo bastante, agora preciso trabalhar" (risos). Então a ideia foi essa, de alguém que sai andando atrás dos outros para mostrar as composições.
MC: "O que eu bebi", uma das músicas do disco e que faz bastante sucesso na internet, também foi baseada numa história real e pessoal?
C.F.: Ai, foi. Teve uma época que eu era apaixonada por um cara que não queria mais nada comigo. E eu bebia horrores para esquecer o assunto. Nossa, eu bebia mesmo!
MC: Esse cara era o Gregório?
C.F.: Não, isso foi antes. Eu e o Gregório nos conhecemos ainda crianças. Fiz jazz - pois é, não sei como, mas fiz - com a irmã dele quando tinha 12 anos e ele 15, mais ou menos. Alguns anos depois, ele entrou para o grupo que faz a peça "Z.É.: Zenas Emprovisadas" e conheceu meu pai, que organizava prêmios de teatro. Daí ele passou a ensaiar em casa, trocamos MSN, conversávamos de vez em quando... Depois também fizemos um trabalho no cinema juntos. Mas só há três anos é que começamos a namorar, mesmo.
MC: Por insistência sua ou dele?
C.F.: Foi dele (risos)! No começo, eu não queria nada com ele não (risos). Achava que tinha nada a ver, ainda estava bebendo pelo outro cara, aquele da música "O que eu bebi". Mas, está vendo, estamos juntos até hoje.
MC: Como é o relacionamento entre vocês? As brigas sempre acabam em piada?
C.F.: Não, a gente separa bastante, sabe? E, nesse sentido, o Gregório é perfeito, porque acho importante falar sério. Não conseguiria ficar com alguém que não tivesse senso de humor, como também não daria conta de alguém que fizesse de tudo uma brincadeira.
MC: Há uma música que ficou fora do disco, “A garota que não gosta de meninos”, que fala sobre sexualidade. Você teve a intenção de levantar a bandeira dos direitos humanos?
C.F.: Essa música foi feita para um seriado que eu fiz no Multishow, “Vendemos Cadeiras”. Minha personagem era lésbica e morava com dois amigos apaixonados por ela. E, para explicar a situação e sua opção sexual, cantava a tal canção. Mas se servir para levantar bandeira, eu acho lindo. Ainda mais neste momento em que estamos discutindo o assunto. Sou muito a favor de casamento gay e todos os assuntos a respeito.
MC: Qual é a sua opinião sobre o Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, Marco Feliciano, e a campanha “você não me representa”?
C.F.: Eu acho a campanha bem legal. O que Feliciano faz é absurdo e ridículo! Mas não é só o Feliciano, há muita gente que está lá no Congresso e não me representa também. Muitos políticos com opiniões com as quais eu não concordo, que perpetuam preconceitos, que são basicamente machistas.
MC: Você já viveu alguma situação preconceituosa?
C.F.: Sim, já comentaram em vídeos meus: “Ela é muito feia, como faz sucesso?”. Como se a mulher tivesse obrigação de ser bonita para realizar projetos bons. Não me senti ofendida, mas é impressionante como as pessoas ainda são machistas! Nunca vi comentarem algo assim em vídeos de meninos. Também já me falaram: "Que bom que você não precisa se vestir como uma puta para ser famosa". Parece até um elogio, mas fico agoniada com esse tipo de coisa porque existe preconceito até com quem se veste de maneira provocante ou não. Eu não me visto porque não tenho um corpão, se tivesse, talvez até usaria, e daí? Isso tudo é muito equivocado e o machismo está presente principalmente na cabeça das mulheres. Para nós, a outra é sempre uma concorrente. Precisamos nos unir mais!
MC: Seus colegas de "Porta dos Fundos", Ian SBF e Júlia Rabello, falaram à Marie Claire sobre a chatice que virou o “politicamente correto”. Você também se sente incomodada?
C.F.: Absolutamente não existe assunto proibido. No entanto, vejo mais graça quando as pessoas são mais revolucionárias do que quando usam assuntos desgastados. Esse tipo de humor é mais engraçado. Só não curto me divertir com coisas genéricas como tirar onda de português. Prefiro inverter o jogo: ao invés de fazer piada com negros, faço com racistas, porque esses é que são ridículos. Não gosto de humor que perpetua preconceitos, não precisamos disso, já foi.
MC: Com o sucesso do "Porta dos Fundos", você e Gregório pretendem ser os novos Marcelo Adnet e Dani Calabresa, considerados o casal do humor atualmente?
C.F.: Engraçado, ninguém nunca fez esta comparação. Eles são incríveis! O Adnet e o Gregório são muito amigos. Porém, a única coisa que temos em comum é a questão de trabalhar com humor. Eles nem estão mais trabalhando juntos... Mas eu adoro os dois, os acho supertalentosos!