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Scholastique Mukasonga lança dois livros durante a Flip

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Scholastique Mukasonga (Foto: Divulgação)

Uma das principais atrações da Festa Literária de Paraty (Flip), que acontece entre os dias 26 e 30 deste mês, Scholastique Mukasonga, 61 anos, nascida em Ruanda, é uma sobrevivente dos conflitos étnicos que marcaram a nação africana. Membro da etnia tútsi, ela e a família foram obrigadas a sair da cidade onde viviam – e depois do país – para fugir dos ataques dos hutus radicais, que, só em 1994, mataram quase 1 milhão de pessoas e estupraram a maior parte das ruandesas. Scholastique mudou-se para a França em 1992, onde voltou a trabalhar como assistente social – profissão que exercia no país natal – e tornou-se escritora. Vem ao Brasil lançar Nossa Senhora do Nilo, autobiografia em que retrata as tensões sociais numa escola para meninas de elite, onde estudou, e também A Mulher dos Pés Descalços, sobre sua mãe – que foi enterrada sem sapatos, para protestar pela ausência da filha, contrariando os costumes locais. Da Normandia, onde vive, conversou com Marie Claire.

Marie Claire Quais são suas memórias de infância?
Scholastique Mukasonga
Minhas primeiras lembranças são de fuga e perseguição. Pelo fato de ser tútsi, minha família foi obrigada a viver em Bugusera, uma região pobre e selvagem do país, dominada por felinos e pela mosca tsé­‑­tsé [transmissora da doença do sono, que pode levar à morte]. Nós sobrevivemos 30 anos nesse campo de refugiados, apesar das perseguições e dos repetidos massacres. Conto todas essas histórias em meu primeiro livro [Nossa Senhora do Nilo], no qual falei ainda sobre os bons momentos da infância, que é também um pequeno paraíso na minha memória.

MC Como viveu o conflito de 1994, em que 1 milhão de ruandeses foram assassinados em três meses?
SM
Eu já estava na França quando aconteceu o genocídio dos tútsis em Ruanda. Uso a palavra “genocídio” e não “conflito”. Foram 1 milhão de mortos em 100 dias, incluindo mulheres e crianças. Minhas lembranças? Uma carta em julho de 1994. Dentro dela, uma folha de caderno escolar. Nessa folha, uma lista com 37 nomes: eram os meus parentes assassinados.

MC Que traumas carrega por causa disso?
SM
Decidi que me tornaria escritora dez anos depois do genocídio. Ao escrever, é como se construísse um túmulo de papel para todos aqueles que jamais terão um túmulo, cujos esqueletos estão, anônimos, dentro de fossas comunitárias ou perdidos no mato. Foi o genocídio que me transformou em escritora.

MC Qual é sua relação com o país hoje?
SM
Volto regularmente para Ruanda, onde meus livros são benquistos. A cada visita, fico impressionada com o progresso do país. Quando vim para a França, Kigali era uma aldeia sombria e cheia de ladrões, hoje é uma capital internacional. Ruanda tornou-se uma referência para outras nações africanas.

Scholastique Mukasonga (Foto: Divulgação)

 


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