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Entrevista | Fiamma Zarife: Ela manda no Twitter

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Desde junho, Marie Claire tem dedicado páginas da revista a um assunto muito importante na vida da mulher: a carreira. Todos os meses, na seção @Work, os leitores terão acesso a reportagens que vão a fundo na questão do empreendedorismo, sempre com um viés feminino. Abaixo, um aperitivo: a CEO Fiamma Zarife conta como chegou a um dos maiores cargos do Twitter.

Acompanhe as reportagens sobre carreira e empreendedorismo neste link

Quando engravidou da primeira filha, em 2004, Fiamma Zarife decidiu esperar o terceiro mês de gestação para dar a notícia no trabalho. Antes disso, foi surpreendida pelo chefe. Em uma reunião com os principais gerentes da empresa de telecomunicações onde trabalhava, anunciou que ela seria promovida. Fiamma não conseguiu comemorar. Achava que sua condição era um impeditivo para subir na carreira. “Chamei meu chefe em particular e contei que estava esperando um bebê. Eu mesma me boicotei”, conta a executiva, que hoje é CEO do Twitter no Brasil. “Por sorte, ele não tinha o mesmo entendimento que eu. O autoboicote é uma postura tipicamente feminina.” De lá para cá, ela passou por outras companhias de telecomunciações até que, em janeiro, assumiu o comando do Twitter no Brasil. Para promover o empoderamento na empresa, reuniu todos os funcionários para debater gênero. O resultado? “Outro dia um funcionário disse que não sabia se dava uma flor ou não dizia nada para a namorada no Dia da Mulher”, diverte-se.

Fiamma Zarife (Foto: Foto João Bertholini)

 

Marie Claire Qual foi o maior obstáculo que você superou na carreira?
Fiamma Zarife
Eu mesma – e isso é uma coisa muito feminina. Já passei por situações na vida profissional em que eu não tomei a dianteira porque não me sentia preparada para isso. É uma falta de autoconfiança que não tem nada a ver com educação – meus pais sempre me incentivaram a ser bem-sucedida. As pesquisas mostram que, quando se publica uma vaga em uma empresa, as mulheres precisam se sentir 90% a 100% preparadas para se candidatar ao cargo. Já entre os homens, esse número cai para algo entre 50% e 60%.

MC E o melhor conselho profissional que você já recebeu?
FZ
“Trabalhe com pessoas melhores do que você”. E aqui me refiro a chefes, pares e subordinados. Nada mais rico do que a troca com pessoas com diferentes competências e talentos; elas ampliam sua visão do mundo.

MC E o maior erro?
FZ
Quando engravidei da minha primeira filha, fiquei esperando dar 12 semanas para contar no trabalho. Nesse meio ­tempo, meu chefe fez uma reu­nião com cinco gerentes para dizer que eu tinha sido promovida. Na hora, não sabia o que dizer. Chamei-o em particular, disse que estava grávida, como se isso fosse um impeditivo. Foi um erro que poderia ter custado a promoção, mas não custou.

MC Já fez coaching?
FZ
Oficialmente, não. Mas tenho muitos mentores. Sempre consulto ex-chefes. Outro dia fizeram um mapeamento de minha rede de relacionamentos e percebi que passo muito tempo com pessoas da minha idade com quem já trabalhei. Preciso conviver com gente mais jovem.

MC O que faz para que mulheres cresçam dentro dos times que lidera?
FZ
Tem uma frase muito linda de uma empreendedora que resume o que penso: “Você só sonha aquilo que vê”. As mulheres sentam muito para conversar comigo. No Twitter, a gente tem um ambiente de diversidade bacana. Temos jornada flexível, licença-maternidade e paternidade. Lá, o movimento é contrário: os homens não estão sabendo como lidar com o empoderamento. Outro dia um funcionário disse que, por causa das nossas discussões, não sabia se dava parabéns, uma flor ou não dava nada no Dia da Mulher para a namorada. Fizemos um all hands (reunião da empresa inteira para falar de um tema) para discutir gênero. No Twiter global, tem 30% de mulheres no comando. No Brasil, o número é ainda maior, mas não posso divulgá-lo.

MC Já sofreu machismo no trabalho?
FZ
Há alguns anos responderia que não, porque nunca aconteceu explicitamente. Mas hoje, quando converso com as meninas mais novas que trabalham comigo, que são muito ativistas, aprendi a responder de outra forma: não é sobre mim. Assédio e discriminação contra as mulheres acontecem muito ainda. Então a resposta é provavelmente sim.

MC Qual é sua meta como presidente do Twitter?
FZ
Assumi num momento feliz,  nunca o Twitter foi tão relevante. Nenhuma plataforma participou tanto dos acontecimentos políticos, culturais, esportivos dos últimos anos. Meu maior papel é o de manter um trabalho de consultoria para marcas e anunciantes, para criar conexões positivas com os consumidores. No Brasil, a empresa cresceu 18% entre 2015 e 2016. No mundo, também cresce constantemente.

MC Qual é seu objetivo na carreira?
FZ
Sei que estou presidente, não sou presidente. Tenho muita noção da finitude do cargo. Quero ser feliz no que decidir fazer e deixar um legado positivo para meus filhos.


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