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Modelo cura obsessão pela magreza, recupera 20 kg e refaz carreira

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Nathalia antes e depois: ela chegou a pesar 48 kg para trabalhar como modelo (Foto: Arquivo pessoal)

“Sempre me falaram que eu deveria ser modelo e eu sempre tive vontade. Mas todas as vezes que eu ia em alguma agência era sempre a mesma coisa: me pediam para emagrecer e eu nunca conseguia, então deixei essa ideia de lado e resolvi fazer um intercâmbio de um ano na Alemanha.

Quando eu voltei, estava com 18 anos e me chamaram de novo para tentar a carreira de modelo. Até dei uma risada porque eu sabia que não daria certo. Usava manequim 42 [com 1,76 de altura], então eu era gorda demais para isso. Mesmo assim, resolvi ir num casting e acabei conseguindo o trabalho, que era um comercial. Comecei a achar que a carreira de modelo poderia dar certo. Mas continuava a ouvir sempre a mesma coisa: ‘você é maravilhosa, tem tudo para fazer sucesso, mas precisa emagrecer.’ E então eu dei um jeito. Fiz várias dietas, comecei a me privar muito e consegui perder peso. Eliminei 20 kg. Pulei do manequim 42 para o 36.

Mesmo tendo perdido 20 kg, sempre quis ser mais magra, mas foi depois de dois anos na carreira, aos 20, que comecei a ficar neurótica. Eu estava fazendo muito sucesso. Fiz campanhas para grandes marcas como Fórum, Carmim, Clinique, desfilei na semana de moda de São Paulo e posei para várias revistas. Mas quanto mais sucesso eu tinha, mais eu ficava com medo de engordar e perder tudo que eu trabalhei pra conseguir porque eu sabia que aquele não era o meu corpo natural.

Obsessão é a palavra que define esse momento. Pensava o dia inteiro em quantas calorias ia consumir e o quanto eu teria que queimar depois. Era uma loucura. Fiz todas as dietas malucas que existem: dieta da sopa, em alguns dias comia só vegetal ou tomava só suco durante uma semana... Além disso, tomava termogênico - que me deixava acelerada -, diurético e até cheguei a tomar anfetamina. Junto a tudo isso, fazia muito exercício físico, mais do que era saudável. Na época em que eu fiquei pior, comecei a malhar como punição. Se eu comia mais do que eu queria, eu corria muito, por horas, até que eu queimasse todas as calorias que eu tinha ingerido, mas, às vezes, isso era quase impossível. Virou um ciclo vicioso. Eu ficava sem comer, depois comia que nem uma louca e aí fazia exercício físico em excesso. Esse ciclo era o que mais me deixava mal, mais do que qualquer dieta que eu fiz, porque vai ficando pior. Quando mais eu me privava, maior era minha compulsão e mais eu malhava.

Nathalia em desfile na semana de moda de São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)

 

Num dia, fui parar no hospital. Estava tomando muito diurético porque eu me sentia melhor e mais leve, mas não sabia que era perigoso. Acontece que meu potássio abaixou muito e eu fiquei internada por cinco dias. Ouvi coisas horríveis dos médicos. Disseram muitos não teriam sobrevivido ao nível de possível que eu cheguei. O médico até escreveu na minha ficha que eu estava com anorexia. Olhei e dei risada porque eu me achava gorda. O mais louco é que eu achei que tomaria mais diurético e que estaria tudo bem. Nem passou pela minha cabeça que eu tinha um problema. Eu achava que o problema era ter tomado diurético, então continuei fazendo as mesmas dietas, jejuns, loucuras... Eu não sabia que isso era parte do problema. Meu corpo estava muito magro para ter aguentado, não teria parado no hospital se eu estivesse com o corpo normal.

Meu peso normal de modelo era entre 50 kg e 55 kg. Quando fui hospitalizada, cheguei a ficar com 48 kg. Até parei de modelar nessa época porque me disseram que eu estava muito magra. Realmente perdi a noção. Mas depois dei uma engordadinha, porque quando uma agência de modelo fala que você está muito magra alguma coisa está errada. Mas continuei com o mesmo pensamento. Como sabia que aquele não era meu corpo natural, continuei fazendo dieta.

Percebi que não estava bem alguns anos depois, aos 24, quando tirei férias e fui para a Costa Rica. Eu tinha conseguido trabalhos muito legais, estava num lugar paradisíaco, mas estava muito infeliz porque ficava desesperada sobre o que eu ia comer. Comecei a pensar se valia a pena. Eu amo minha carreira, sempre amei, mas percebi que não valia.

Comecei a fazer terapia e fiz acompanhamento com uma nutricionista que usa o método de comer intuitivo, o que transformou meu modo de ver a alimentação e salvou a minha vida. Nesse processo, você come se ouvindo por dentro e não por fora. Aprendemos que temos que fazer uma dieta X para ter um corpo Y ao invés de ouvir o nosso corpo sobre o que precisamos comer e como nos sentimos quando comemos. Fora isso, fazia muita meditação, praticava ioga diariamente, o que me ajudou muito. Tentei reduzir a frequência de exercício cardio porque eu fazia como punição.

Esse processo durou um ano e não foi fácil. Tive recaídas. Em alguns dias eu chorava desesperadamente porque eu achava que ia me tornar obesa, e em outros dias eu me sentia melhor. Depois desse tempo de um ano, eu tinha certeza que nunca mais queria voltar para o que eu era antes.

Nathalia recuperou 20 kg e refez a carreira no nicho in-between, padrão intermediário entre o tradicional e o plus size (Foto: Arquivo pessoal/Rommel Demano)

Obviamente, ganhei muito peso nesse processo. Foram 20 kg. Apesar de eu me sentir melhor e mais saudável, minha carreira estava afundando. Meus agentes não conseguiam mais achar trabalho para mim. Quando pulei para o manequim 38, eu já não tinha mais trabalho em Nova York. Meus melhores clientes falaram que não dava mais. Foi a parte mais difícil pra mim, porque pensei que teria que arranjar outro trabalho. Quando cheguei no manequim 40, perdi todos os trabalhos. Falei para minha agência que não dava mais, que não faria mais dieta e mudei de agência. Entrei na JAG Models, que não tem distinção de modelos pelo tamanho.

Consegui vários trabalhos novos e comecei a carreira do zero. Foi libertador poder posar sem pensar qual é o meu ângulo mais magro. Passei a pensar em qual pode ser a minha versão mais bonita.

Hoje, uso manequim 42 e trabalho no nicho in-between [um padrão intermediário entre o tradicional e o plus size] e também com marcas plus size. Minha carreira é completamente diferente. Não trabalho com nenhum cliente do passado. Moro em Nova Yokr e aqui tenho bastante espaço. Já posei para marcas como Ralph Lauren, Lands’ End e Marina Rinaldi. Mas no Brasil realmente não há muito trabalho para modelos que não são magras demais ou plus size. Levanto muito essa bandeira, porque acho que tem que ter espaço para todos.

Hoje, estou bem tranquila, com a minha vida refeita. Ganhava mais dinheiro antes, mas acredito que a questão financeira vai melhorando com o tempo. Eu mudei de nicho há um ano então estou crescendo ainda. Mas está ótimo mesmo que fique assim porque dinheiro nenhum vale o que eu vivi. Mesmo que eu não ganhasse nada e tivesse que mudar de carreira, estaria melhor do que antes.

Além de modelar, lancei um canal no Youtube, chamado "Todas Juntas", com a Fabiana Saba e a Luma Grothe. Queremos falar sobre quebra de padrões e sobre como cada um de nós tem a sua própria beleza. Não adianta querermos ser igual a outra pessoa. Temos que encontrar a nossa própria força."


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